Dilma defende modelo multissetorial e multilateral para governança da
internet
SÃO
PAULO (Agência Brasil) - A presidenta Dilma Roussef defendeu hoje (23) um
modelo de governança global da internet que seja “multissetorial, multilateral,
democrático e transparente”. Ela participou da abertura do NetMundial, encontro
que ocorre até amanhã (24) em São Paulo e conta com participação de 80 países
para discutir princípios de governança da internet e a proposta de um roteiro
para a evolução do sistema. “A participação dos governos deve ocorrer em pé de
igualdade sem que um país tenha mais peso”, declarou.
Dilma
relembrou que a necessidade de promover um encontro como este surgiu,
especialmente, a partir das denúncias de espionagem digital pelo governo dos
Estados Unidos. “No Brasil, cidadãos, empresas, representações diplomáticas
tiveram suas comunicações interceptadas. Estes fatos são inaceitáveis. Atentam
contra a própria natureza da internet – aberta, plural e livre”, apontou. Esse
fato fez com que o Brasil apresentasse uma proposta de estabelecimento de um
marco civil global para a internet na Assembleia Geral da Organização das
Nações Unidas (ONU).
A
presidenta fez a defesa de que “os direitos que as pessoas em off line devem
ser protegidos on line”, a exemplo do direito à privacidade. “Esta reunião é
uma resposta a um anseio global por mudanças nas legislações vigentes e pelo
fortalecimento sistemática da liberdade de expressão na internet e da proteção
à direitos humanos básicos”, declarou. O encontro discutir e propor princípios
de um modelo de governança a partir de 188 contribuições enviados por
diferentes setores, como privado, acadêmico, sociedade civil, de 46 países.
O
secretário-geral das Nações Unidas para temas econômicos e sociais, Wu Hongbo,
destacou que a internet é essencial para disseminar informações e a governança,
portanto, deve preservar essa característica. “Cada vez mais temos pessoas que
podem fazer sua voz ser ouvida e podem participar da sociedade. Por isso é
essencial que a governança da internet continue a estimular a liberdade de
expressão e o fluxo livre das informações”, declarou. Ele lembrou que um terço
das pessoas atualmente tem acesso à internet no mundo e, embora seja um número
relevante, ainda é necessário ampliar a democratização da rede, especialmente
nos países em desenvolvimento.
A
representante da sociedade civil, a nigeriana Nnenna Nwakanna, que também
participou da abertura da conferência, destacou que a internet está sendo cada
vez mais um meio para acumulação de riqueza. “O direito ao desenvolvimento deve
incluir a justiça social. Eu quero um mecanismo que inclua as pessoas e seja um
meio de inovação para que a mente humana floresça”, defendeu. Também
participaram representantes do setor privado, o vice-presidente da empresa
Google, Vint Cerf; e técnico, o físico Tim Berners-Lee, criador da World Wide
Web.
A
presidente Dilma Rousseff sancionou nesta quarta-feira (23) o Marco Civil da
Internet, que foi aprovado ontem (22) pelo Senado. A nova lei estabelece as
obrigações e direitos dos provedores de internet.
O
único ponto do Marco Civil da Internet que admite controle sobre as
informações, sem ordem judicial, é o que trata da pornografia. No ano passado,
uma jovem, de Goiânia foi surpreendida com a publicação numa rede social de um
vídeo em que ela aparece falando sobre sexo com o namorado. O material se
tornou conhecido em todo o país. Ela parou de estudar e de trabalhar. O caso
foi parar na polícia.
Com
a aprovação do Marco Civil, a vítima, a partir de agora, tem mais segurança.
Ela poderá pedir ao provedor da internet que retire o material publicado, sem
necessidade de recorrer à justiça. A empresa que não fizer isso vai ser
responsabilizada por violação da intimidade.
O
Marco Civil defende a liberdade de expressão. Fora os casos de pornografia, os
provedores de internet não serão responsabilizados por conteúdo publicado por
terceiros e só vão responder por danos, se não atenderem à uma ordem da justiça
para retirar o material da rede.
Direito
a privacidade - ao encerrar uma conta, o usuário tem a garantia de que seus
dados pessoais serão excluídos da rede. Eles podem ficar armazenados por seis
meses para uma eventual investigação, mas depois serão apagados. Empresas não
podem guardar informações sobre o conteúdo que o internauta acessa. Além disso,
as empresas não podem guardar informações sobre as páginas e o conteúdo que o
internauta acessa.
Neutralidade
da rede - Proíbe que qualquer empresa possa privilegiar um usuário ou vender
pacotes de serviços com restrições. Apenas vídeos, apenas musica ou redes
sociais.
“Nenhuma
operadora pode fazer uma venda dizendo, se você quer um acesso básico paga 10,
se você quer acessar vídeos vai pagar mais 15, quer acessar e-mail, mais 5. O
acesso é ilimitado”, explica o pesquisador da Universidade de Brasília,
Marcello Barra.