Nós cá, eles lá: os
perigos da reeleição de Obama
Desta vez, o que levou Obama à vitória não foi a esperança, e sim o medo inspirado por um rival de extrema-direita
Primeiro presidente negro em um país racista, Barack Obama chegou à Casa Branca, quatro anos atrás, em meio a expectativas favoráveis, dentro e fora dos EUA. Havia fé em um mandato comprometido com o bem-estar dos cidadãos comuns e com uma postura mais pacífica no plano internacional. Amarga ilusão. Obama se curvou aos interesses de Wall Street, em prejuízo de milhões de compatriotas atingidos pela crise, e manteve uma política externa truculenta, quase igual à do seu antecessor.
Desta vez, o que levou Obama à vitória não foi a esperança, e sim o medo inspirado por um rival de extrema-direita, portador de propostas delirantes. Agora já não haverá frustração. O império seguirá sua lenta trajetória de declínio, pontuada por agressões militares em países periféricos.
Do ponto de vista brasileiro, o novo período se inicia com a certeza de que nada (de bom) existe a esperar do Obama-2. Uma comparação entre as agendas de Brasília e de Washington mostra um amplo predomínio dos pontos de conflito sobre os de eventual cooperação. Os EUA continuarão sabotando a integração regional sul-americana – prioridade de Lula e Dilma – com acordos bilaterais e uma articulação paralela no eixo do Pacífico. Novas bases militares serão instaladas e prosseguirão as tentativas de remoção dos governos progressistas, seja pelo apoio às forças políticas de direita, seja pelo golpismo, quando parecer viável.
Os EUA também farão tudo para desestimular o protagonismo do Brasil em escala global (um avanço da gestão de Celso Amorim no Itamaraty). No plano econômico, o foco estará cada vez mais concentrado na conquista do mercado brasileiro para equilibrar s perdas no comércio com a China.
Por isso, na próxima vez que Obama dirigir os seus sorrisos pros lados de cá, o melhor é botar as barbas de molho. Cuidado com ele.