Acordo abre espaço para pacto
mundial do clima
Compromisso de EUA e China, responsáveis por 45% da poluição global, com corte da emissão de gases estufa pressiona Brasil, Rússia e Índia
Por Editorial
Muito esforço já foi feito para conter o aquecimento global, origem de mudanças climáticas. Mas o sensação geral é de que se está muito aquém do necessário. E a culpa é, óbvio, dos líderes mundiais. Pois os presidentes dos EUA, Barack Obama, e da China, Xi Jinping, firmaram, em Pequim, um acordo que soa como o primeiro grande passo na direção de tudo o que ONU, cientistas, ambientalistas e especialistas em clima têm implorado.
Juntos, os dois gigantes respondem por 45% de toda a poluição do ar. Sua iniciativa envia a mensagem de que o jogo começou para valer. Espera-se que isto convença países recalcitrantes a se comprometer definitivamente com a redução das emissões na grande reunião de dezembro de 2015, em Paris.
No acordo, Obama prometeu cortar entre 26% e 28% a emissão de dióxido de carbono até 2025, tendo como base 2005. É um avanço significativo em relação à meta anunciada pelo presidente em 2009: 17% até 2020. E vai requerer a limitação da poluição gerada por usinas térmicas a carvão, novas e já existentes. Assim como cortes em outros gases, como metano na produção e transporte de gás natural, além de investimento contínuo em combustíveis alternativos, não fósseis.
Xi Jinping comprometeu-se com a queda das emissões chinesas a partir de 2030, ou “um pouco antes”. Até essa data, fontes limpas deverão responder por 20% de toda a energia gerada no país. Isto significa acrescentar de 800 a 1 mil gigawatts de energias nuclear, eólica, solar e de outras formas de geração de emissão zero — o equivalente à toda a capacidade atual do parque de usinas a carvão do país.
Para Obama, depois da derrota nas eleições de meio de mandato, o acordo que muda de patamar a questão climática mostra que sua política de focar na Ásia é consistente e pode levá-lo à liderança na questão climática. Precisará da cooperação do Congresso, agora dominado pelos republicanos. Já Xi Jinping reforça sua liderança interna e envia aos países vizinhos, alarmados por sua agressiva política regional, a mensagem de que ele é capaz de negociar e chegar a acordos.
O acordo de Pequim ressoa particularmente junto a outros grandes poluidores, como Brasil, Índia e Rússia. Até agora, a Índia, terceira maior emissora de dióxido de carbono, tem se mantido firme em não aceitar metas de redução. Espera-se que reveja a posição.
Em relação ao Brasil, as informações são de que reduziu sensivelmente a emissão de gases estufa desde 2004, principalmente pela queda no desmatamento da Amazônia. Mas o desmatamento volta a preocupar, ao subir nos últimos dois anos. Em relação a Paris-2015, é preciso que o país reforce o compromisso na luta contra o aquecimento global, aceitando metas específicas de redução de emissões.