Instabilidade no Iraque exige intervenção
É preciso neutralizar, enquanto é tempo, a possibilidade de o grupo sunita fundamentalista Estado Islâmico espalhar o terrorismo pelo mundo
POR EDITORIAL
09/08/2014
A volta da máquina militar dos EUA ao Iraque, ainda que na forma de bombardeios aéreos, mostra como é grave a situação criada com o inapelável avanço da organização sunita radical Estado Islâmico (ex-Isis), que domina ampla área no Nordeste da Síria e Norte do Iraque, na qual instalou o que denomina um califado.
O presidente Barack Obama cumpriu sua promessa de retirar as tropas americanas do Iraque no fim de 2011, e não pretendia voltar. Ele resistiu aos apelos para envolver os EUA militarmente na guerra civil da Síria. Mas agora precisava fazer algo com rapidez, pois o Estado Islâmico (EI) ameaça de genocídio os curdos e os cristãos no Iraque, além das minorias yazidi e shabaks xiita. Há cerca de cem mil refugiados, e 40 mil passam fome, sede e sofrem calor nas montanhas do Norte do Iraque. A escolha diante do EI é se converter ao fundamentalismo islâmico ou morrer. A esperança de milhares de pessoas está na assistência humanitária despejada pelos aviões e no bombardeio americano de posições do EI. Fontes oficiais iraquianas revelaram que os militantes do EI raptaram centenas de mulheres da minoria yazidi, que pratica uma religião ancestral considerada herética pelo grupo.
Conflito no Oriente Médio é redundância, mas o momento atual está fora dos padrões. Há três em andamento. O Iraque está à beira da desintegração, com sua maior hidrelétrica nas mãos do EI. A guerra civil síria já dura mais de três anos. O país está destruída, e as principais áreas, nas mãos do EI e do ditador Bashar Assad. Por sua vez, Israel e o Hamas travam a terceira guerra, iniciada dia 8, com 1.890 palestinos (430 crianças, 55% civis) e 67 israelenses mortos o último cessar-fogo, já suspenso.
O movimento pela derrubada das velhas ditaduras no Oriente Médio, um dia chamada Primavera Árabe, mostra-se um fiasco, com exceção da Tunísia. No Egito, após breve período de controle pela Irmandade Muçulmana, os militares voltaram a dominar o país e restabeleceram, em linhas gerais, a situação mantida durante décadas por Hosni Mubarak. A Líbia pós-Kadafi é o paraíso das milícias e da lei do mais forte. Na Síria, Assad resiste, mesmo que mate seu povo.
No Iraque foi diferente: as mudanças foram feitas pelos americanos, de fora para dentro. Foi inevitável passar o poder à maioria xiita. Mas o premier eleito, Nouri al-Maliki, fez o oposto do que se esperava, afirmando no poder a força dos xiitas, sem fazer as concessões para inclusão dos sunitas e dos curdos no governo. Só agora, diante do avanço do EI, há gestos de união contra o inimigo comum.
A intervenção americana se justifica. A criação do califado, com sua interpretação fundamentalista do Islã, não ameaça apenas Iraque e Síria e a região, mas a todos. É preciso neutralizar, enquanto há tempo, a possibilidade de esse grupo fundamentalista espalhar o terrorismo pelo mundo.