A difícil sintonia fina das sanções à Rússia

 

EUA e UE aplicarão novas medidas contra o Kremlin, se houver tentativa de inviabilizar as eleições marcadas para o dia 25, na Ucrânia

 

3/05/14

 

A crise da Ucrânia segue em escalada. Na cidade portuária de Odessa, dezenas de pessoas morreram no incêndio de um prédio após confrontos entre partidários de Kiev e de Moscou. Além disso, dois helicópteros militares ucranianos foram derrubados por foguetes disparados pela milícia pró-Rússia. As aeronaves faziam parte de uma ofensiva do governo provisório de Kiev para retomar a cidade de Slaviansk, no Leste, ocupada por forças russas.

 

Imediatamente, a Rússia considerou superado o acordo firmado em Genebra entre Moscou, Kiev e Washington, que estabelecia condições para uma desescalada da crise. Por sua vez, reunido na Casa Branca com a chanceler alemã Angela Merkel, o presidente Barack Obama disse estar preparando, com os aliados europeus, sanções para atingir setores da economia russa — as que entraram em vigor até agora visam a punir dirigentes e empresários no entorno do presidente Putin e separatistas ucranianos. Tanto Obama quanto Merkel puseram o foco nas eleições do dia 25, em Kiev. Iniciativas russas para impedir o pleito serão a senha para desfechar as novas sanções.

 

A crise deslanchou após a tentativa de reformistas ucranianos de se aproximar da UE, assinando com ela um acordo que daria às empresas do país acesso mais amplo ao mercado europeu, o que as obrigaria a se modernizar. Segundo esses dirigentes em Kiev, isso seria saudável para um país dominado por oligarcas e suas fórmulas político-econômicas viciadas.

 

Putin puniu pesadamente a Ucrânia, retomando a península da Crimeia (que fora russa até 1954) e passando a comandar insubordinações e rebeliões no Leste do país, cuja população fala russo e tem estreitos laços com a Rússia. A justificativa do Kremlin é proteger essa população das “agressões” do governoilegítimo” e “nazista” de Kiev.

 

Entre Rússia e Ucrânia, tudo ia relativamente bem enquanto prevaleciam, nos dois países, sistemas autoritários de governo, com instituiçõesdemocráticasperfeitamente submissas aos poderosos eleitos. Em Moscou, o arranjo faz parte de um projeto de poder — o putinismo —, cultivado por uma maneira toda particular de Putin permanecer no topo do sistema e de usar o nacionalismo e o orgulho ferido dos russos para adubar seus planos. Mas uma rebelião derrubou o homem do Kremlin em Kiev e os problemas começaram.

 

É correta a decisão de EUA e UE de aplicar novas sanções à Rússia. A questão é a dosagem: nem tão fracas que não atinjam a economia russa — e as informações são de que até agora isto pouco ocorreu —, nem tão fortes que levem Putin a algum desvario militar.

 

Neste caso, é certo que sua popularidade iria às nuvens entre os russos, mas o Ocidente teria um problema ainda mais sério para enfrentar.