Oposição diz que adiamento
de viagem aos EUA é jogada eleitoral
Júnia Gama, Chico De Gois,
Isabel Braga
BRASÍLIA
— A oposição reagiu nesta terça-feira ao adiamento da
visita oficial que a presidente Dilma Rousseff faria ao presidente
dos Estados Unidos, Barack
Obama, em outubro, devido à insatisfação com as respostas do governo americano pelo episódio de espionagem. Para senadores do PSDB e do DEM, a decisão do Palácio do Planalto levou mais em conta
uma estratégia de marketing
eleitoral do que os interesses do país.
“Abdica-se mais uma vez a defesa
de interesses reais do Brasil para privilegiar
uma ação de marketing eleitoral”, afirmou o senador Aécio Neves
(PSDB-MG), segundo nota do partido. “Na nossa avaliação, seria muito mais adequado
que a presidente dissesse isso objetiva
e claramente ao presidente americano e aproveitasse esta viagem não apenas
para enfrentar esta questão, mas
para defender os interesses da economia
e, até mesmo, de determinadas empresas brasileiras”, disse.
Aécio defendeu que o governo deve
fazer investimentos em defesa de redes
e informações digitais. “Da mesma forma é inaceitável que o governo brasileiro não tenha gasto
sequer 10% de uma verba orçamentária aprovada com defesa cibernética”, disse.
Na
mesma linha de Aécio, Aloysio Nunes (PSDB-SP) chamou o ato de “marketing político”.
—
Apoiamos uma reação forte da presidente Dilma de repúdio à espionagem. Mas, achamos que
ela fez mal em cancelar a viagem, porque ela deveria
aproveitar para dizer na Casa Branca
que espionagem é intolerável. No contexto em que foi
tomada, a decisão do cancelamento da viagem, fica claro
que houve uma confusão entre diplomacia e marketing político. Isso foi feito
para mobilizar os sentimentos de patriotismo no Brasil para fins eleitorais — disse o líder do PSDB, Aloysio Nunes
(SP).
Do
lado do governo, a defesa de que a presidente agiu com respeito ao país:
—
A decisão da presidente levou em consideração o respeito ao Brasil
e aos brasileiros — declarou o líder do PT no Senado, Wellington Dias (PI).
Para
ele, a própria nota divulgada pelo Palácio do Planalto deixou claro que
as interceptações não foram esclarecidas e que o governo americano
não tem disposição de demonstrar que foi a última vez
que isso ocorreu.
O
líder petista acredita que a atitude de Dilma colocou o Brasil em outro patamar.
Dias observou, porém, que as relações entre os dois países
dependerá do futuro.
—
Depende do que vai acontecer daqui
para a frente.
A
senadora Vanessa Grazziotin
(PCdoB-AM) criticou a espionagem americana que, para ela,
é uma prova de desrespeito total de um estado por outro. Ela
elogiou o adiamento da viagem da
presidente.
—
É uma resposta esperada, mas está
muito aquém diante de toda a agressão que o Brasil vem sofrendo.
Não é o rompimento das relações bilaterais, mas um gesto.
O
tucano Álvaro Dias (PSDB-PR) foi na
mesma linha de Aloysio Nunes. Para o senador, a presidente deveria ir aos
Estados Unidos para confrontar o presidente Barack Obama pessoalmente
e exigir medidas de reparação ao Brasil
pela espionagem.
—
É uma jogada de marketing que não traz
benefícios ao país, só à presidente,
com vistas às eleições de
2014. Esconder a cabeça para não ver
o que se passa ao redor não
traz nenhum benefício. Se o governo acredita que houve
essa espionagem indevida, tem que enfrentar e pedir explicações convincentes — aponta Álvaro Dias.
O
líder do DEM, Agripino Maia
(RN), acredita que o governo brasileiro deve dar uma
resposta à altura para os Estados
Unidos, para demonstrar seu repúdio ao episódio.
No entanto, o senador acredita que o cancelamento da viagem poderá trazer
mais prejuízo que benefícios ao país.
—
Por trás da decisão há
claramente o aconselhamento
de uma equipe de marketing político-eleitoral. Há um lado bom e um lado
ruim na decisão
da presidente porque, ao mesmo
tempo em que o Brasil precisa dar uma resposta
à altura de sua estatura para essa
bisbilhotice — disse Agripino.
O
senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), que apesar de pertencer
a uma partido da base governista mantém uma postura
independente no Senado, também criticou a decisão do Planalto.
—
A presidente quer tirar proveito desse episódio há mais de um ano
da eleição para, no ano que
vem, as pessoas verem que a coragem
que ela não
teve para enfrentar o presidente Morales na Bolívia, ela
teve para enfrentar o Obama nos Estados Unidos — afirmou o senador.
Líderes aliados apoiam decisão da presidente
Na
Câmara, os líderes aliados apoiaram a decisão da presidente, destacando que se trata de reação soberana do país. Para a oposição, no entanto, embora tenha que
cobrar responsabilização
dos envolvidos na espionagem dos dados brasileiros,
Dilma não pode adotar o que
chamaram de postura ideológica neste caso.
Para
o líder do DEM na Câmara, Ronaldo Caiado (GO), a presidente deveria ter comportamento
de estadista e não um comportamento "estritamente ideológico", referindo-se à atitude de cancelar a visita oficial ao país.
—
O Brasil deve exigir reparação e penalização de quem cometeu espionagem, mas não cabe
à presidente adotar um comportamento estritamente ideológico. O país já conviveu com situações como a da Bolívia, quando
o presidente Evo Morales saqueou as refinarias brasileiras e o governo não tomou qualquer
atitude.
O
líder do governo na Câmara, Arlindo
Chinaglia (PT-SP) disse que já antevia
esse cancelamento, já que a presidente
Dilma deixou pública sua insatisfação
com a espionagem e cobrou providência para que a visita fosse mantida:
—
Foram declarações (as do presidente Barak Obama) de no máximo
amizade. Então, para não colocar
o país em relação subalterna, concordo com o adiamento. Dá uma demonstração
de que o Brasil não aceita esse
tipo de atitude, que os fóruns
internacionais serão acionados e que a relação entre os país têm que
ser bilateralmente respeitadas
— disse Chinaglia.
O
líder do PT, José Guimarães
(CE), classificou como
"corajosa" a atitude
da presidente e diz que ela
pauta a relação entre os dois países.
—
Foi muito importante, a presidente tomou uma decisão
corajosa. Ninguém deve temer os
Estados Unidos. Qualquer grito não pode nos
inibir. O telefonema do
Obama não resolveu. Ela suspendeu a visita temporariamente e, enquanto isso, prossegue o diálogo entre os dois países
— disse o petista.
O
líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), afirmou que o adiamento da visita foi
uma oportunidade perdida.
—
Todos nós repudiamos qualquer tipo de espionagem feita contra cidadãos brasileiros, autoridades ou não. O encontro
seria uma oportunidade única para que a presidente
Dilma externasse a Obama que o Brasil repudia
e não tolera espionagem, cobrasse explicações detalhadas e as ouvisse. Isso seria
uma forma de reafirmar a posição do Brasil. No entanto, a oportunidade foi perdida — disse
Sampaio.