Yankees, go
home!
Essa verdadeira invasão de privacidade revolta não apenas
nossas autoridades, mas também os
cidadãos em geral
ZUENIR VENTURA
Publicado: 10/07/13
Será que Barack
Obama vai continuar em silêncio diante
da indignação de Dilma Rousseff, que ameaça recorrer
à ONU contra a “interferência”
da Agência de Segurança Nacional, a NSA americana? Será que ele,
tão politicamente correto, não vai
fazer nada contra a “violação
da nossa soberania e dos direitos humanos”? Como disse o professor
de Direito Constitucional
Pedro Serrano, é “um ato de agressão”.
Essa verdadeira invasão de privacidade revolta não apenas
nossas autoridades, mas também os
cidadãos em geral, porque é um atentado à individualidade de todos e de cada um de nós. Aliás, já
pedi ao José Casado — que teve
acesso aos documentos vazados e produziu, com Roberto Kaz e Glenn
Greenwald, um extraordinário furo
de reportagem — para procurar entre os milhões de mensagens de brasileiros monitoradas pelos EUA os
telefonemas e e-mails começando
pela letra “Z”. Fico imaginando aqueles burocratas fuçando minha intimidade.
É
claro que se trata de mania de grandeza, uma herança paranoica
da época de nossa ditadura militar, quando a prática do grampo era disseminada entre políticos, jornalistas, artistas, intelectuais em geral (Ziraldo e eu ficamos presos
durante meses por causa de uma
conversa gravada, tida como perigosamente
subversiva). Até há pouco tempo, me surpreendia interrompendo o interlocutor
do outro lado da linha: “Isso
a gente fala pessoalmente, por telefone é perigoso.” Mas aqueles eram
tempos de generais e de censura
aqui, e de Nixon e guerra
do Vietnam lá. Hoje, porém, não será
pior? Há pelo menos mais
sofisticação, com o advento
da globalização, da internet e da revolução da tecnologia
da informação. Antigamente, a operação de escuta era demorada: instalação do microfone, gravação, transcrição da fita. Agora, o volume de informações monitoradas é gigantesco. “Só no mês de janeiro deste ano”, informa
a reportagem, “a NSA rastreou 2,3 bilhões de dados nos EUA”, e o Brasil
ficou pouco atrás, sendo o país mais espionado
da América Latina, e isso sem ser base de terrorismo, só de corrupção.
Em tempos de passeatas
e cartazes, não surpreende que desenterrem uma palavra de ordem ao mesmo tempo fora de moda e muito atual: “Yankees, go home.”
Honra ao mérito desse jovem
D. Quixote, herói real num mundo
virtual: o ex-técnico da NSA Edward Snowden, que está vivendo em
trânsito, atualmente no aeroporto de Moscou, fugindo dos americanos como um criminoso por ter denunciado
essa diabólica rede de espionagem eletrônica.
Zuenir Ventura é jornalista