Segregação e o ‘terror solitário

 

EUA e países europeus precisam adotar com urgência políticas para assimilar comunidades de imigrantes que, discriminados, vivem em verdadeiros guetos

 

EDITORIAL

 

24/05/13

 

Ao anunciar estratégias restritivas de combate ao terrorismo, o presidente Barack Obama disse ontem: “Precisamos definir a natureza e o alcance dessa luta, ou ela nos definirá. Devemos ter em mente a advertência de James Madison (4º presidente dos EUA) de quenenhuma nação pode preservar sua liberdade em meio a uma guerra contínua’. Nem eu nem qualquer presidente pode prometer a derrota total do terror. Nunca apagaremos o mau que repousa nos corações de algumas pessoas (...)”.

O discurso, em que pela primeira vez citou um arcabouço legal para o uso de drones, ocorre menos de 40 dias depois dos atentados em Boston (três mortos, 170 feridos), uma dia após dois muçulmanos matarem um soldado britânico em Londres e durante a quarta noite seguida de violência por imigrantes de subúrbios pobres de Estocolmo, Suécia. um nexo entre os fatos.

Enquanto Obama “enquadra” a guerra ao terror, o desafio parece cada vez maior. Boston e Londres mostram ao mundo uma nova face — os “lobos solitários”. São indivíduos que saem das sombras para cometer crimes de caráter vingativo, ou seja, de marginalizados ou oprimidos contra a sociedade que os acolhe, mas vista como opressora. As investigações em Boston revelam uma célula chechena islâmica que quebra o elo com a comunidade e decide fazer sua jihad particular. No caso londrino, trata-se de um jovem de origem nigeriana nascido no Reino Unido, um cristão que se converte ao Islã, parte para vingar seus irmãos muçulmanos e mata, com a ajuda de outro homem, um militar britânico diante do quartel do qual partem soldados para o Afeganistão.

A violência em Estocolmo começou com a morte, causada pela polícia, de um imigrante de 69 anos num subúrbio de baixa renda. Repete rebeliões como as de 2011 no Reino Unido, após o traficante negro Mark Duggan ser baleado e morto pela polícia; e de Paris em 2005, quando dois adolescentes morreram eletrocutados ao se esconder de uma batida policial, num banlieu, subúrbio.

Explosões de violência em bairros pobres de cidades europeias refletem moradores segregados, sem chances no mercado de trabalho e mesmo perseguidos. Em verdadeiros guetos de sociedades afluentes, mas em crise econômica, jovens dão vazão à frustração ateando fogo e destruindo. Vindos de culturas diferentes, muitos de países islâmicos, são presas fáceis para doutrinações políticas via pregadores radicais, organizações idem ou internet. “Lobos solitárioscrescem nesses ambientes.

Os EUA e os países europeus devem multiplicar esforços de seus órgãos de segurança para aperfeiçoar a ação preventiva e de vigilância, intensificando a troca de informações. Precisam realizar também ações de governo que conduzam à assimilação das comunidades excluídas por credo, local de origem, cultura, cor da pele ou qualquer outra razão. Algo difícil, mas necessário. A segregação ajuda o terror.