Ações discriminatórias ameaçam legado de Obama

 

Atos aparentemente baseados em política e ideologia requerem resposta exemplar do governo, pois põem em risco credibilidade dos Estados Unidos

 

EDITORIAL

 

23/05/13

 

Pergunta-se o que está havendo com o governo Barack Obama no início do segundo mandato. De repente, a Casa Branca se obrigada a dar explicações sobre uma série de casos de ataque aos direitos civis. Fica a dúvida: foi assim o tempo todo e se soube agora ou a administração deu uma perigosa guinada? O que veio a público nos últimos dias é suficiente para gelar o sangue dos que vêm os EUA como paradigmas da democracia e da liberdade, o que de fato são. Portanto, é preciso que Obama e governo ajam rápida e eficientemente para reparar os danos e garantir que não se repitam.

 

Chamada a testemunhar na Câmara de Representantes, a chefe da área de isenções fiscais do IRS (a Receita Federal americana), Lois Lerner, invocou a Quinta Emenda para não responder às perguntas dos parlamentares. Estes querem saber por que o IRS pôs na alça de mira organizações conservadoras, usando programas de rastreamento que detectam palavras como “tea party” oupatriota”, por exemplo. Trocando em miúdos: a máquina fiscal do governo democrata esteve caçando organizações conservadoras, ligadas ao Partido Republicano, na oposição. Algo que violenta, entre outros, o princípio de que todos são iguais perante a lei. Ou de que o Fisco não pode discriminar contribuintes por motivos políticos ou ideológicos.

 

Preocupou os defensores da liberdade de imprensa, e das liberdades em geral, a informação de que o serviço secreto espionou telefones da agência de notícias Associated Press (AP), de vários de seus jornalistas, para investigar a fonte do vazamento de informações sobre um plano terrorista frustrado que seria desfechado a partir do Iêmen. Não demorou e surgiu outro caso, desta vez envolvendo um jornalista da Fox News, de Murdoch, canal de TV conservador, crítico dos democratas, frequente defensor de pontos de vista de setores do Partido Republicano. James Rosen, chefe do escritório em Washington da emissora, noticiou, em 2009, que a Coreia do Norte planejava o lançamento de um míssil em resposta à condenação, pelo Conselho de Segurança da ONU, dos testes nucleares norte-coreanos. O Departamento de Justiça iniciou uma investigação para apurar o vazamento de “informação confidencial” e chegou a um funcionário do Departamento de Estado. Mas não parou: classificou Rosen de “co-conspirador” e pediu à Justiça acesso a seus e-mails.

 

Com isto, o governo Obama se excedeu, passou a ameaçar o direito, fundamental, de a imprensa coletar e divulgar informações. As providências prometidas pelo presidente até agora — investigações pelos próprios órgãos governamentaissão insuficientes para tranquilizar os que querem ter certeza de que não sofrerão tratamento discriminatório do governo. Como está no início do segundo mandato, o presidente tem tempo para assegurar que isto não ocorra. Seu legado está em risco.