Eleição dificulta acordo nos EUA
12/07
No calendário
da crise mundial, a mais grave desde a década de 30 do século passado, setembro de 2008 é uma espécie de marco zero, mês em que o banco
Lehman Brothers ficou insolvente,
a administração Bush não o resgatou da quebra, e um choque de congelamento do crédito se propagou pelo planeta na
velocidade dos computadores.
Candidata-se a entrar neste calendário o próximo 2 de agosto, por um motivo que,
há poucos anos, seria ficção:
nesse dia, os Estados Unidos,
pela primeira vez na História,
darão um calote nos credores, caso
republicanos e democratas não se entendam sobre o aumento do teto do endividamento americano, hoje em US$ 14,2 trilhões,
a ser esgotado no início de
agosto.
Difícil imaginar que, devido ao
cabo de guerra entre os partidos
Democrata e Republicano, haja um default americano, com todas as graves consequências sobre o próprio país e a economia mundial, já obrigada
a viver no fio da navalha com a crise de dívidas soberanas europeias.
O presidente
Barack Obama assumiu as negociações
com os republicanos. O fim de semana foi
de reuniões na
Casa Branca. Ontem à tarde haveria
mais uma.
Os republicanos têm sido representados por John Boehmer, presidente da Câmara. Até a nova tentativa prevista
para ontem, Boehmer recusava a proposta de Obama de sair da negociação uma ampla reforma tributária
que permita uma economia de US$ 4 trilhões em dez
anos. Os republicanos
preferem uma meta mais modesta,
de US$ 2 trilhões.
O conflito
denuncia a contaminação eleitoral do problema. Que o Congresso precisa aumentar o teto do endividamento público, como
já fez várias vezes, não se discute.
Agora, porque as contas dos
Estados Unidos - como as de boa parte do mundo - ficaram desequilibradas devido ao necessário saneamento
de bancos, sustentação de indústrias (GM, Chrysler), aos recursos para desempregados,
injeção mesmo de dólares no sistema, na tentativa de reanimar a economia. Não havia outra alternativa.
O pedido
de ampliação do teto de endividamento ao Congresso foi uma
oportunidade para republicanos fustigarem Obama, a pouco mais de um ano das eleições
presidenciais. A oposição à
Casa Branca não quer se comprometer com a meta mais ambiciosa
de US$ 4 trilhões porque não aceita que
o governo Obama consiga sequer um centavo proveniente de aumento de impostos - e ele busca US$ 1 trilhão nessa fonte.
Da volta, por exemplo, da taxação de faixas de renda elevada, eliminada no governo Bush, com prazo de vigência. Já houve uma prorrogação
negociada com os democratas, em troca de algum alívio tributário a famílias de rendimento mais baixo. O rebate tributário aos ricos expira em
janeiro de 2013, e não está nos planos
do Obama mais uma postergação. Além disso, os republicanos querem cortes
amplos na saúde pública e em gastos sociais,
considerados intocáveis pelos democratas. Entre os republicanos,
é grande a pressão neste sentido do grupo Tea Party. E assim a estabilidade que resta à economia mundial está na dependência dos humores eleitorais americanos.