O que Mark Zuckerberg e as musas do carnaval carioca têm em comum?

 

09/03/2011

 

Mônica Geraldi Valentim

 

A mudança na estética feminina no carnaval brasileiro, evidente na quantidade de músculos por centímetro quadrado que as novas musas estão exibindo, gerou capa de revista e suscitou hipóteses sobre uma maior liberdade da mulher em escolher os

padrões a serem perseguidos na busca do corpo perfeito. Se quem entenda essa atitude como uma forma de contestação, eu percebo simplesmente como evidência do poder da filogênese, por maior que seja a nossa transformação cultural e por mais moderno que o mundo aparente ser.

 

Em nossa história evolutiva, mulheres com sinais físicos de saúde e juventude levaram vantagem na competição por parceiros sexuais. E a beleza, de alguma maneira, sempre esteve ligada a indicativos de que a parceira em potencial tinha uma genética de qualidade e poderia gerar uma prole com grandes chances de sobrevivência. Esses padrões nunca foram totalmente cristalizados. Em tempos de carência de alimentos, por exemplo, uma gordurinha a mais podia sinalizar abastança. Hoje em dia, pode revelar a impossibilidade de investir em alimentos balanceados, nutrólogo, personal trainer, intervenções cirúrgicas e outras peripécias para se aproximar do que é concebido como saudável. Mas por mais que alguns parâmetros mudem, cinturas finas, lábios carnudos e cabelos sedosos nunca deixaram de fazer sucesso, o que contribui para disseminar cada vez mais as técnicas de lipoaspiração, preenchimento com ácido hialurônico e escovas para alisamento das madeixas que mudam de nome a cada dia. Mais gordinhas ou mais magrinhas, branquelas ou bronzeadas, a beleza, de fato, nunca saiu de moda.

 

E o lance agora é ser hipersarada! O que realmente foge à minha compreensão é onde está a liberdade de escolha quando alguém segue militarmente uma dieta plena de restrições, submete-se a injeções diárias de enzima, encara tratamentos dolorosos e

empurra 500 quilos com as pernas, com o único objetivo de manter o corpo permanentemente gritando sua recusa em mostrar o menor sinal natural de envelhecimento. Enquanto me pergunto como alguém pode literalmente viver uma vida sem sal nem açúcar, tento encontrar a motivação que mantém tanto sacrifício. E é que encontro a conexão entre as musas do carnaval e Mark Zuckerberg.

 

Se a atratividade feminina segue atrelada à beleza, um dos requisitos determinantes para a eleição do macho-alfa continua a ser um fator importante na seleção de parceiros: a capacidade de acumular recursos que irão garantir a sobrevivência sob as

mais áridas circunstâncias. Por mais que as mulheres tenham conseguido se emancipar nas últimas décadas, homens ricos e bem-sucedidos continuam a esbanjar possibilidades de escolha sexual. De acordo com o filme "A rede social", o criador do Facebook fez das tripas coração para provar seu valor à mulher que desejava ao seu lado e foi tão fundo na competição que conquistou bilhões de dólares. Talvez não tenha conseguido a parceira que queria, mas certamente ampliou consideravelmente o leque de opções depois que sua conta bancária passou a ter tantos dígitos. Se ele está feliz com o resultado, isso é outra história.

 

"No fundo, no fundo, o que todos nós perseguimos são garantias de que teremos nossas necessidades primárias satisfeitas. Precisamos de água e alimento, mas igualmente precisamos de afeto para sobreviver. "

 

No fundo, no fundo, o que todos nós perseguimos são garantias de que teremos nossas necessidades primárias satisfeitas. Precisamos de água e alimento, mas igualmente precisamos de afeto para sobreviver. E assim cometemos insanidades, em maior ou menor grau, nessa busca de sermos aceitos, amados e admirados. Pena que nem sempre percebemos que a ditadura vem disfarçada de opção. Se nos conscientizássemos das nossas verdadeiras necessidades, talvez pudéssemos ir direto ao ponto e buscássemos

genuinamente o que é essencial para todo ser humano e que John Lennon avisava: "All you need is love".