Lula
critica Obama por não conversar com Ahmadinejad
14/04/2010
Flávio Freire e Eliane Oliveira
SÃO PAULO e CAIRO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira
que considera grave a decisão dos Estados Unidos de impor sanções ao Irã
antes de um diálogo entre os
dois países. Para Lula, falta ao
presidente americano,
Barack Obama, uma conversa
"olho no olho"
com o iraniano Mahmoud Ahmadinejad. Segundo ele, a falta de uma negociação entre as duas partes pode
levar a um clima de animosidade semelhante ao da
época que precedeu a guerra no Iraque. Lula, no entanto,
fez uma ressalva de que Ahmadinejad deverá assumir as consequências se fabricar armas nucleares.
- O que
eu acho grave é que até agora o presidente Obama não conversou com o Irã. Até agora nenhum presidente do Conselho de Segurança conversou com o Irã. Tem de conversar com o presidente olho no olho e dizer que
vai tomar tal decisão
- disse Lula, que voltou a defender as relações comerciais do Brasil com Teerã. - Eu vou
lá muito à vontade, mesmo porque o Brasil é parceiro comercial do Irã - acrescentou.
No encontro
que terá com o presidente da China, Hu Jintao, na
sexta-feira, Lula dirá que isolar
o Irã neste momento poderá significar um tiro no pé e uma injustiça,
caso Ahmadinejad esteja falando a verdade e sua política nuclear realmente tenha apenas fins pacíficos. Lula tem como trunfo
o fato de Obama não ter conseguido eliminar as resistências da China, que tem direito a veto no Conselho de Segurança, a novas sanções. O presidente também destacará que o argumento usado pela Casa Branca de que Israel pode perder a paciência e atacar o país persa
não tem fundamento, já que, diz,
Israel não atacaria sem consentimento
americano.
Segundo pessoas
próximas ao presidente brasileiro, não é intenção de Lula "implorar" por uma aliança com a China em torno do Irã.
Mesmo porque, lembrou esse alto funcionário, o governo brasileiro não apoia o Irã,
e sim defende o direito de todo país ter o seu
próprio programa.
- O presidente
Ahmadinejad afirma para o público interno que não vai
produzir a bomba atômica. O Irã é o país mais monitorado
do mundo - afirmou uma fonte da
área diplomática do governo.
Lula "olhará nos olhos"
de Ahmadinejad, durante a sua
visita a Teerã, no próximo mês, e pedirá que ele
apresente garantias concretas de que sua política nuclear é para fins pacíficos, disse esse alto funcionário. O governo brasileiro sabe que o mundo inteiro
estará esperando pelo resultado do encontro. A partir
de então, Lula tomará sua decisão sobre
apoiar ou não uma possível
nova rodada de sanções a Teerã.