Padrasto brasileiro diz que pai americano deixou de visitar filho para manter acusação de sequestro

 

RIO - O americano David Goldman acabara de sair do condomínio onde estivera pouco antes com seu filho, Sean, pela segunda vez naquele dia, quando o advogado João Paulo Lins e Silva, padrasto do menino, recebeu a equipe do GLOBO para a sua primeira entrevista sobre o caso. Apesar do dissabor causado pela visita (na verdade, pai e filho se viram fora do apartamento, na área comum do condomínio), João Paulo - que luta para manter Sean no Brasil - parecia calmo e ligeiramente satisfeito ao saber que, naquele momento, circulava na internet um manifesto de amigos em apoio à sua causa.

 

Ele explica que, após um longo período de silêncio, resolveu falar sobre o caso para "não virar saco de pancada" e evitar a idéia de que "quem cala consente". Ele, que ganhou a guarda provisória do menor na Justiça estadual, diz que se sente alvo de uma campanha difamatória internacional, na qual aparece como "sequestrador" de um menino de 9 anos que considera o próprio filho. Durante a entrevista, João Paulo se esforça para evitar o tom emocional. Não quer usar, segundo ele, as mesmas armas do americano. No fim, porém, capitula. Confrontado com uma foto de Sean, em que o garoto carrega as duas alianças do casamento de João Paulo e Bruna presas a uma armação de madeira em forma de oito, o advogado explica que o "oito", deitado, representa o infinito. "Era o nosso símbolo, o amor infinito". Em seguida, chora.

Como o senhor a reação da opinião pública?

 

JOÃO PAULO: Minha sensação foi de que o pai americano começou a explorar os acontecimentos, exibindo a sua versão, em grande parte mentirosa, para a torcida americana. Isso começou, talvez, de uma forma estratégica criada por ele e sua equipe, e acabou contaminando também a opinião pública brasileira. O objetivo era transformar-nos nos grandes vilões da história. Claro que a opinião pública tem o seu peso. É absurdo como duas famílias (a Bianchi e a Lins e Silva) que, durante anos, deram amor, carinho e dedicação a uma criança, agora viraram sequestradores internacionais, como tentam vender. Isso é um absurdo.

O senhor se refere à versão mentirosa. Poderia detalhar mais o que considera mentira na versão do americano?

 

JOÃO PAULO: Detalhes que contados não condizem com a realidade. Temos todos os documentos comprovando. A versão dele mostra as fotos com o Sean. Não assisti parte dos programas, mas sei que uma das coisas alegadas é que ele teria vindo ao Brasil e fora impedido (de ver o filho). Mentira. Nunca houve impedimento de coisa alguma. Nunca se buscou contato com a família neste sentido. Nunca houve iniciativa judicial para isso. Zero. Nenhuma ligação ou petição ao juiz pedindo a visita. Ele exibe o passaporte dizendo que veio sete vezes. Mas as pessoas contam que ele esteve somente no Tribunal da Justiça para fazer lobby.

Ele se refere à família brasileira como poderosa e capaz de influenciar a Justiça?

 

JOÃO PAULO: Outro absurdo. Nada aconteceu de forma diferente. E veja o texto de uma petição do americano, documento oficial dentro do processo (ele exibe e ): "Se até aqui não houve visitação, isso se porque, muito embora não tenha sido negado pela mãe da criança essa possibilidade, seus respectivos advogados sempre condicionaram o reencontro pai e filho à assinatura pelo requerido David de acordo de visitação que seria a aceitação da jurisdição brasileira sobre as questões relativas à guarda do menor e que esse acordo o pai do menor jamais poderia subscrever, visto que resultaria no impedimento à continuidade de ação de busca e apreensão, cujos autos se encontram remetidos ao Supremo Tribunal Federal". O que significa isso? Está claro. Ele optou por não visitar porque existe um processo. E se ele visitasse, seria admissão. Esse processo no Supremo é a alegação de sequestro, iniciativa dele. Agora, está dito textualmente que foi opção dele, que não poderia visitar, porque se visitasse deixaria de ser sequestro. É coisa absurda. Se processo demorasse 20 anos, ele ficaria 20 anos esperando porque o advogado disse isso para ele. Que amor é esse?