Postado por William Waack em 04 de Setembro
de 2008
Não é preciso concordar com o que diz Sarah Palin, a candidata republicana a vice-presidente dos Estados Unidos, para admitir
que ela é a grande sensação da convenção republicana.
No momento em que este texto foi
enviado para publicação, o candidato a presidente, John McCain, ainda não havia falado
– e arrisco-me a dizer que seu pronunciamento
terá menos repercussão que as palavras pronunciadas pela companheira de chapa na véspera.
A pergunta que não cala
desde a última sexta-feira é saber se Sarah acrescenta
votos ou se atrapalha a campanha republicana, que parece bem menos
organizada e agressiva do que a dos democratas, pelo menos até
agora. Minha opinião é a de
que ela acrescenta,
e bastante, simplesmente pelo fato de ter
embaralhado as cartas de
forma, creio, irrecuperável.
A mensagem de Obama
é a da mudança dos hábitos políticos num país cansado de “Washington” (aqui entendida a velha política)? Palin acusa Obama de fazer parte do clube que ele critica.
É a mensagem dos democratas
a proximidade com o sofrimento
das classes médias americanas,
as mais atingidas pela atual crise?
Palin diz que ela vive ainda
como uma mãe de família de classe média, enquanto
Obama….
Palin soltou uma
grande piada em seu discurso: a da diferença entre uma “hockey mom” (as mães que levam os
filhos para a aula de esporte) e um pitbull. “É o batom”, disse ela. A combinação
aqui é perigosíssima, e boa
parte da imprensa liberal
(no sentido americano) e
dos ativistas democratas já percebeu isso.
Ataca-se uma mulher
como Palin, e o resultado é torná-la uma vítima de machismo, sexismo, preconceito, etc. Dá-se as costas a ela, e você
sai com uma bela mordida no traseiro. O de Obama deve estar ardendo: Palin o atacou como nem mesmo
Hillary Clinton tivera a audácia de fazê-lo. Ela não poupou
sequer a mulher de Obama,
Michelle.
Quando falo que
Palin embaralhou as cartas, refiro-me também ao fato
de que ela mudou para as próximas
nove semanas os argumentos mais
esgrimidos até agora entre os contendores – a saber: a) quem é mais experiente
para conduzir o país; b) quem traz
mudanças nos hábitos políticos; c) quem sabe melhor
o que acontece com o americano médio; d) quem conserta a economia.
A chapa McCain-Palin reinventou-se como corajosa e competente não por abordar temas
específicos, mas, ao contrário, por
arriscar falar sem se importar com as consequencias políticas. Palin atacou boa parte da chamada “grande”
imprensa americana acusando-a de preconceito em relação a alguém,
como ela, que não era conhecida
nos coquetéis frequentados por políticos e jornalistas bem informados em Washington.
Mas ironia, sarcasmo
e bom humor são componentes de discursos bem organizados para um público escolhido quando o jogo é em casa (o caso da convenção republicana).
É difícil calcular o quanto Palin aguentará
no mesmo ritmo as próximas nove semanas,
especialmente quando ela não for mais
novidade alguma. A eleição não
está perdida para os democratas,
mas Obama-Biden estão longe ainda de ter garantido a vitória.