Obama e a economia
Postado por William Waack em
25 de Agosto de 2008 às 21:30
Já faz algum tempo que os
comentaristas americanos estão pedindo a Barack Obama que ele se defina melhor.
Passou a Obamamania (menos no exterior) e sobrou um candidato democrata que
nunca teve condições tão favoráveis para derrotar o oponente republicano, e
está vendo diminuir rapidamente a vantagem que tinha nas pesquisas de intenção
de voto.
Tem uma coisa a ver com a
outra? Não arrisco aqui um palpite, embora intuitivamente acredite que sim. Mas
vamos ao que parte da imprensa americana (não necessariamente republicana)
lamenta como principal "indefinição" por parte de Obama: economia.
Não é fácil atacar Obama como
um "liberal", na acepção americana da palavra. Ele simplesmente NÃO
defende maior intervenção do estado, e NÃO advoga que redistribuição de
riquezas tenha de ser feita por órgãos regulatórios ou burocráticos.
Mas também não é possível
atacá-lo como um clintonista, preocupado com o equilíbrio fiscal e deixando que
o mercado regule por si mesmo seus problemas. Ou seja, NÃO é possível dizer que
Obama tenha decidido a favor dos "adeptos do mercado" a velha briga
ideológica entre economistas que assessoraram Clinton (o debate é importante
pois Clinton presidiu sobre o maior período ininterrupto de expansão da
economia da recente história americana).
Onde está Obama, quando o
assunto é economia? David Leonhardt, colunista de economia do "The New
York Times" e um dos mais recentes entrevistadores de Obama, recebeu do
candidato democrata uma resposta que qualificou de dúbia: "o centro da
minha teoria econômica é pragmatismo", declarou Obama, "trato de
descobrir o que funciona".
Não há espaço aqui para se
abordar todas as propostas de Obama em pontos específicos, mas ele tem deixado
a impressão de que pretende conciliar o irreconciliável. Não tanto em termos de
teoria econômica mas, sobretudo, em termos de impacto político do que propõe.
Obama propõe cortes de
impostos que beneficiariam mais gente, mas sua mensagem não "pegou"
na classe média. Obama propõe obras públicas e um programa de investimento
estatal que lembra os tempos de Roosevelt, mas os trabalhadores que perderam
empregos recentemente por culpa de novas tecnologias ainda não
"ouviram" a mensagem de Obama. E por aí vai.
O dado econômico simples e ao
mesmo tempo extraordinariamente complexo para o eleitor americano hoje é o fato
de que o crescimento econômico do país nas últimas duas décadas não se traduziu
em prosperidade para a maior parte das famílias. Ou seja, há algo inédito para
a consciência coletiva do país: as gerações atuais não terão padrão de vida
melhor do que as gerações precedentes.
O problema aqui, em termos
eleitorais, é que as detalhadas e bem formuladas propostas de Obama não têm o
óbvio apelo ideológico que, talvez, as tornassem mais facilmente compreensíveis
e aceitáveis para o eleitorado que ele tem de conquistar. Ironicamente (ou
tragicamente, se vocês quiserem) o que parece uma proposta racionalmente
arquitetada carece do "apelo" fácil que os republicanos sabem
explorar tão bem.
Veredicto do colunista
Leonhardt, citado acima: "Obama não se acertou ainda numa mensagem forte
de como colocar a economia de novo nos eixos". Pode ser que o candidato
democrata esteja pagando um preço alto por isso. Preço que é um alerta a todos
nós: Obama estabeleceu com bastante rigor a ligação entre desenvolvimento,
prosperidade e sustentabilidade.
Parece, contudo, que a idéia
não vende