Favorito, Obama busca apoio internacional para campanha
Postado por William Waack
21 de Julho
de 2008 às 20:17
O senador
Barack Obama pôs o pé na estrada
e está viajando pela metade do mundo: do Afeganistão à Alemanha, passando pelo Iraque, Reino
Unido e França. Desde que se tornou
o favorito nas eleições presidenciais americanas, é a primeira viagem “internacional” de Obama, especialmente diante dos temas envolvidos: as duas guerras nas
quais estão metidos os americanos
no Oriente Médio e o entendimento com seus principais parceiros ocidentais.
John McCain
tem razão quando diz que seu
adversário está empenhado apenas numa caravana eleitoral. E daí?
Dá para se ter uma boa idéia
do que o candidato sensação (Obama, claro) tem a dizer quanto às
mudanças que pretende impor também à política externa americana.
Não parece ser tanta mudança
assim.
Foco central, claro, é saber quando e como
Obama retiraria as tropas americanas do Iraque. Antes mesmo de ele ser recebido em Bagdá
com tapete vermelho, nesta segunda (21/7) a própria Casa Branca havia dito, no fim de semana, que concorda com algum tipo de horizonte
de tempo para a retirada de
tropas americanas do país.
Não, não foi
um jeito pérfido de Bush de
tirar as manchetes de
Obama. Quem pediu esse prazo foi
o próprio primeiro-ministro
iraquiano, que está sob forte pressão dos grupos xiitas que
o seguram no poder. Que Obama e os xiitas pensem
em prazos rápidos para uma
saída pode ajudar bastante algum tipo de entendimento.
Obama fala em
16 meses de prazo para início da
retirada. Os comandantes
americanos, que conhecem os xiitas
melhor do que ele, acham que
é muito cedo.
No Afeganistão
os americanos (e colegas da Otan)
estão sofrendo mais baixas atualmente
do que no Iraque. Há algo
de “normal” nesse derramamento
de sangue: desde a antiguidade (provavelmente
desde muito antes) guerreia-se no Afeganistão durante o verão do hemisfério norte. No inverno, por conta
do clima e da topografia, as coisas se acalmam. Na média
anual, continuarão morrendo mais soldados
ocidentais no Iraque.
Mas o Afeganistão não pode ser tratado
sem se considerar
o vizinho Paquistão – que proporciona, involuntariamente ou não, as bases das quais operam os inimigos
da Otan e dos americanos. E sobre o Paquistão Obama nada disse ainda que configure
qualquer tipo de mudança, ou seja,
os americanos parecem espectadores num espetáculo que eles não controlam.
Em compensação, a campanha de Obama está tentando controlar o espetáculo da caravana
eleitoral na
Europa – e já pisou em ovos
antes mesmo de desembarcar por lá. Obama escolheu
como palco principal Berlim, a capital da Alemanha, imediatamente causando ciumeira em Londres e Paris, que se consideram mais “atlânticas” (com Sarkozy, claro), do que os “suspeitos”
alemães, que volta e meia se entendem particularmente com Moscou e outros lugares obscuros ao Leste.
Mesmo na
Alemanha, a monumental assessoria
externa de Obama (700 colaboradores!)
esbarrou em sutilezas que, para os europeus,
nada tem de discretas. Ele queria
fazer um discurso em frente à Porta
de Brandenburgo – exatamente
onde Ronald Reagan desafiou
Mikhail Gorbachev a desfazer o Muro
de Berlim. Os alemães acharam que não era o caso
– afinal, Obama ainda não é presidente.
Próxima sugestão foi o aeroporto de Tempelhof, onde pousavam os
aviões americanos que garantiram a sobrevivência do lado ocidental da capital alemã quando Stálin
mandou bloqueá-la, em 1948. Mas aí “descobriu-se”
que o arquiteto do aeroporto era Albert Speer, que além de preferido de Adolf Hitler
acabou a guerra como ministro
responsável pelo emprego de trabalho escravo na produção
de armamentos – e foi condenado como criminoso no Tribunal de Nurembergue.
Obama vai
falar, então, em frente à Coluna
da Vitória – ornada com os canhões
que Napoleão tomou em várias
campanhas, e depois os alemães tomaram
dos franceses na guerra que levou
à fundação do primeiro império alemão, em 1870. Em outras palavras,
jeitinho ruim de se chegar, no dia seguinte, a Paris. E Londres, que se acha francamente ignorada pelo candidato
democrata americano.
É claro que se trata
de perfumaria, se vocês quiserem. Mas dá uma idéia de como
pensa a campanha de Obama: como vencedora. E embora as pesquisas de intenção de voto nos Estados Unidos
(na França, Alemanha e Reino Unido, Obama seria eleito com mais de 80% dos votos) indiquem uma corrida muito
difícil com John McCain, os
critérios menos “científicos”, digamos assim, já consagram
Obama.
Prestem atenção no principal deles,
que acertou 14 das últimas 15 eleições americanas: o barômetro eleitoral de Alan Abramowitz, cientista
político da Emory
University. Ele diz que McCain
já pode ir
para casa. E Obama, quem
sabe, interessar-se ainda mais pelo
que acontece no resto do mundo.