Decisão da Justiça
dos EUA deixa dúvidas sobre futuro
de Guantánamo
por William Waack
12 de Junho
de 2008
O veredito
da mais alta
instância do judiciário americano é um alívio para todos que
se preocuparam – e com boa dose de razão – com o cerceamento a direitos individuais e liberdades civis nos Estados Unidos
depois do 11 de setembro. Foi uma violenta
bofetada no governo Bush. Ressaltada como decisão histórica
pela imprensa americana e internacional.
Do ponto
de vista jurídico, o que estava em jogo
era o princípio do habeas corpus, na
prática negado aos prisioneiros de Guantánamo pelo “Military Comissions Act” de
2006, pelo qual o governo Bush retirou dos tribunais civis a competência para julgar acusações contra os prisioneiros em Cuba. Frente a tribunais militares “convencionais”, a instância criada em 2006 oferecia maior proteção aos prisioneiros.
Mas o veredito do Supremo americano de hoje torna inaceitável que os suspeitos
de terrorismo detidos em Guantánamo não possam ser acompanhados por um advogado, e nem que possam
permanecer sem conhecimento exato das provas que fundamentam
as acusações contra eles. Tudo isto, determinou
a maioria dos juízes do Supremo, é um atentado contra o
“habeas corpus”, ancorado na
constituição americana.
Talvez o golpe maior
dado pelo Supremo contra
Bush e os homens que tomaram conta
da política externa e de segurança doméstica nos Estados
Unidos seja político. Os juízes
pronunciaram-se sobre um problema central que se observa em todos
os países democráticos que tiveram de enfrentar ondas de terrorismo. Quanto se pode tolerar de cerceamento a liberdades e direitos civis em nome da
segurança interna?
França, Alemanha, Itália, Reino Unido
e Espanha, para citar algumas democracias
européias, enfrentaram o mesmo dilema. Daí
o horror com que muitos dos
comentaristas europeus – e americanos também – observaram as práticas dos Estados Unidos em relação a prisioneiros
capturados no Paquistão e Afeganistão (vários deles sem dúvida nenhuma
combatentes da al-Qaeda de
Osama bin Laden).
“As leis e a Constituição foram designadas para sobreviver, e permanecer vigentes, em tempos extraordinários”,escreveu, em nome do Supremo,
o juiz Anthony M. Kennedy. É uma
frase estupenda, o cerne de um princípio que torna o estado
de direito e a democracia superiores a outros
regimes vigentes.
Mesmo com esse julgamento,
porém, não está claro o que
acontecerá agora com os 270
prisioneiros em Guantánamo. Os<!--[if !supportEmptyParas]--> dois candidatos à presidência já disseram que
pretendem fechar a prisão, o que faz
supor que pelo menos alguns
dos detidos serão ouvidos por tribunais
em Washington. É bem provável, porém,
que o assunto se converta em tema
da campanha eleitoral de novembro.
John
McCain, ele mesmo mantido como prisioneiro
de guerra no Vietnã por mais de cinco
anos, foi quem ajudou a redigir
o “Military Comissions Act” de 2006. Ao comentar
a decisão do supremo, nesta quinta (12/06) McCain preferiu citar o voto vencido de um dos juízes, para o qual a decisão aboliu um conjunto de proteções garantidas a estrangeiros detidos
como “combatentes inimigos”, sem nada deixar no lugar.