Postado por William Waack em 22 de Maio de 2008 às 20:55
A conseqüência imediata da explosão
do preço do petróleo é clara e irreversível
no curto prazo. É uma inflação
global que já se manifesta em aumentos
de preços de alimentos, passagens aéreas, fretes marítimos, insumos e produtos finais dos mais variados setores.
No médio prazo há duas
interpretações conflitantes.
A primeira, contida num relatório da respeitada
Agência Internacional de Energia, assume que razões geopolíticas e geológicas levarão inevitavelmente a um crise de suprimento de petróleo. Essa interpretação foi a causa imediata do nervosismo nos mercados de petróleo nesta quinta-feira (22).
A outra interpretação
no médio prazo parte do mesmo cenário (inflação de preços, disputa por recursos finitos),
mas chega a conclusão bem diferente.
O custo crescente do barril do petróleo levará a um resfriamento
da economia mundial, que impediria
o surgimento de uma crise de suprimento.
É difícil
conseguir desempatar essa “briga” de interpretações neste momento. Outros episódios semelhantes de subida do preço do petróleo evidenciaram que custos mais altos viabilizam novas tecnologias e melhor utilização de combustíveis. Na década
dos setenta os “choques” de preços e oferta (causados por razões geopolíticas
e não geológicas) foram absorvidos por uma fantástica
revolução tecnológica – a da era da informação.
Há um fator novo na política
internacional do petróleo hoje, e ele é a ascensão dos países emergentes. Economistas assinalam há algum
tempo a importância desses estados em evitar
que a crise americana se transforme
numa crise global. O que começa a ser entendido melhor agora é o peso desses países na disputa pelos mesmos recursos
escassos.
É cedo ainda para se falar
num “rearranjo geopolítico”
–a China como nova super potência
não é qualquer novidade–, mas, neste momento, parece suficientemente claro que o caminho
dos emergentes estará subordinado em primeiro lugar ao acesso a fontes
de energia e (insuspeitado para analistas dois anos atrás)
apenas em segundo lugar à
abertura de mercados, fluxos de investimento e acordos internacionais de comércio.
Não se trata aqui de pintar em novas cores o conhecido (e discutido) quadro das “guerras por
recursos” (água, energia, alimentos). Fatores políticos,
religiosos e sociais são igualmente poderosos para se entender conflitos internacionais ou a dificuldade em se obter acordos - como no Oriente
Médio, por exemplo.
Mas está claro
que os emergentes
vão competir, talvez pela primeira
vez, pelos mesmos recursos à disposição dos já ricos e desenvolvidos.