OBAMA: MEIA REVOLUÇÃO

 

4 Jun, 17:58h

 

Editorial

 

Praticamente certo: contados os delegados eleitos para a Convenção Democrática, Obama está quase candidato oficial à Presidência dos Estados Unidos. Obama se afirmou como inevitável vencedor da Convenção e mesmo a sua grande rival Hillary Clinton atirou a toalha ao chão: deu-se por derrotada e felicitou Barack Obama.

 

Pode dizer-se que a candidatura de um afro-americana à Casa Branca foi cuidadosamente preparada pelos media. O que anos seria impensável (“Eu tive um sonho”, disse Martin Luther King) passou a ser algo conscientemente aceite pela grande maioria da população norte-americana, “brancosincluídos, desde que as televisões começaram a passar séries onde o protagonista era/é um Presidente “negro”. Premonição? Evidentemente que não: a máquina política dos Democratas sobre trabalhar e preparar os caminhos que permitiam que o “politicamente incorrectopassasse a ser “politicamente correcto”.

 

Constatar isto pode ser um balde de água fria para quantos pensam hoje que Obama será o que objectivamente não pode ser: não será nenhuma ruptura no establishment dos Estados Unidos. Terá obviamente a anuência do Pentágono e da Wall Street, ambos fartos do aparente cabotinismo de George W. Bush, que conduziu o país para o pântano de guerras para as quais não se solução plausível e para a beira do abismo de uma grave crise económica: G W Bush limitou-se a ser o instrumento útil dos cartéis do petróleo, que nunca engordaram tanto como hoje em dia, e da indústria militar, também ela locupletada com chorudos lucros. Tudo em nome daliberdade”, dademocracia” e do cançonetismo de circunstância.

 

O Partido Republicano ficou de rastos e os Estados Unidos com mais sepulturas nos cemitérios dos “heróis”: foi a “marca” de George W. Bush. Obama (e provavelmente Hillary, como candidata à vice-presidência) tem agora uma tarefa: retirar os Estados Unidos do atoleiro. Vai ter que meter as mãos no fogo: e a cor da pele (passe o cinismo) até ajuda a isso. Se falharbem, virão os discursos racistas apostrofar um Presidente “negro”, que até pode ser alvo de um empeachment que entregue o poder à vice Clinton. Também séries televisivas em que estes cenários são descritos.

 

Não vai ser fácil o caminho de Obama. Para , e independentemente das reservas que a futurologia faculta, uma certeza: aconteça o que acontecer depois, algo mudou nos Estados Unidos, finalmente, alguém do black people bem colocado na corrida à Casa Branca. O que ninguém podia sonhar ser possível no tempo em que Luther King marchava pelos direitos humanos e o Black Power incendiava as cidades. Por isso, o caminho de Obama é meia-revolução. Oxalá tenha sorte e saiba tornear as armadilhas.