O fim do risco zero
Desde a declaração da independência americana, sempre houve emissão
de títulos do tesouro como o fazem todos
os países. Estes títulos são
emitidos para suprir o caixa do governo, como antecipação
de impostos e outras previsões orçamentárias. Estes títulos pela
sua natureza são de prazos médios
e longos, rendendo uma taxa de juros
de face (em geral). Pelo seu comportamento
de austeridade dos governantes
americanos, estes
títulos sempre foram honrados impecavelmente nos seus devidos vencimentos.
Vivemos sobre a égide
do modelo capitalista, isto é, todo o empreendimento tem seus riscos de negócios, que podem ter
várias naturezas, como fracasso de mercado, inoperância administrativa, desorganização, obsolescência técnica ou tecnológica etc. Assim, qualquer empreendimento (no caso privado), para quem investe
no chamado mercado de capitais, corre o risco da própria atividade econômica. A palavra
risco traz em si o conceito
de “uma condição com potencial para causar danos ou
mesmo perda”. Esta, por sua vez,
é um custo/gasto não planejado que pode
ou não ser recuperado. Risco está presente em qualquer operação
no mercado financeiro.
É um conceito multidimensional que
cobre três grandes grupos: risco de mercado, risco operacional, risco de crédito e risco legal.
Os riscos
especulativos, pelo seu viés, dependem
do comportamento da própria
sociedade, que pela visão da economia
pode ser variações na oferta
e demanda; crédito e liquidez; legislação; produtividade e rentabilidade; e até da mídia. A
análise segue um aprofundamento,
até as considerações de ordem ética, por
parte dos envolvidos, na quebra do cumprimento
das cláusulas de contrato. Tudo fica atrelado
a uma única força invisível: a confiança mútua. Como o ser humano é volúvel e inconstante, vivemos perpetuamente sob o signo do risco.
A preocupação fundamental dos agentes
econômicos é sempre com o risco da liquidez financeira. Em outros termos, que nos vencimentos
pactuados tenham sua cobertura, onde se tem neste sentido o chamado fluxo financeiro. Na análise da rentabilidade
sempre está presente o risco de liquidez. Para efeitos de comparação, sempre se usou um parâmetro que servisse de risco zero. Ou seja, um ativo
financeiro que não tivesse nenhum
risco de pagamento no seu vencimento. Quem trabalha na área do mercado de capitais conhece bem esta
terminologia. Em vista do comportamento, em mais de 200 anos da independência americana, o tesouro americano nunca permitiu ocorrer qualquer atraso de pagamento de seus títulos (treasuries). Para os analistas de mercado, tem sido considerado como
o único ativo de risco zero. Isto tem dado uma boa base para todos os investimentos
do mundo, como
também a segurança de liquidez do sistema financeiro mundial.
Se Obama na
sua “missão final”, não conseguir evitar
o calote da divida, barrigando o monstruoso déficit (14 trilhões de dólares) com a permissão do congresso americano, então será a primeira vez na história
americana que o país entrará em
“default”. Lá se foi a baliza
do risco zero. Ou seja, a economia mundial ficará sem bússola,
ficará à deriva. Por consequência, todo o sistema financeiro que estiver atrelado, com letras do tesouro americano, ficará sem liquidez,
com uma quebradeira generalizada. Será a débâcle econômica
mundial? Será início de uma
nova recessão mundial, já alertado por
Paul Krugman (Prêmio Nobel
de Economia - 2008) há mais de dez anos?
Sergio Sebold
é economista e professor de pós-graduação
da Uniasselvi – Blumenau
(SC)