Wiki-chiliques
2010-12-16
Raramente se revela de forma tão evidente o equilíbrio precário em que
as democracias ocidentais vivem. As reacções dos estados desmascarados pelas
iniciativas da WikiLeaks demonstram quão podres são as elites que exercem o
poder em nosso nome. O caso, de tão simples, assusta.
1. Têm sido divulgadas pela WikiLeaks provas de actividades de duvidosa
ética ou mesmo criminosas, conhecidas e nalguns casos promovidas por estados
supostamente "decentes".
2. Os meios usados pelas fontes para passar estas informações foram irregulares
mas, atendendo à sua natureza e ao claríssimo interesse público de muitas
delas, condenável seria não agir.
3. A WikiLeaks, pelo seu líder Julian Assange, seguirá uma agenda
anti-americana. Terá sido irresponsável por não filtrar os dados que colocassem
pessoas em perigo ou fossem irrelevantes para os altos valores que afirma
defender. É possível. Tudo isto justifica então procedimentos mais elaborados
como os que propõe a nova organização Openleaks: entregar o que recebe das
fontes anónimas a meios de Comunicação Social por elas escolhidos para
tratamento jornalístico, em vez de divulgar directamente.
4. Países que julgávamos terem uma estrutura judicial madura, como a
Suécia e a Grã-Bretanha, são afinal terrivelmente permeáveis a pressões políticas.
É inaceitável a perseguição feita a Julian Assange sob pretexto de uma acusação
banal de duas senhoras suecas arrependidas de partilhar lençóis com quem
conheciam há apenas poucas horas.
5. Se tudo isto não originar um terramoto com origem na sociedade civil,
bem mereceremos a triste situação dos países que até agora classificávamos como
pouco respeitadores dos direitos humanos, até fundamentalistas. Contudo, não
nos sentiremos privados da liberdade, pois afinal nunca a teremos
verdadeiramente desejado.