O Natal da Sony Pictures sem
paz
23 Dezembro 2014
Natal, época de paz e de amor. Natal, época de novos filmes e de muitos dos principais lançamentos dos estúdios de Hollywood. Mas este ano para a Sony Pictures, a empresa de entretenimento da Sony, o Natal tem tido tudo menos paz e amor.
Vamos rever de uma forma breve os acontecimentos das últimas semanas. A Sony Pictures ia lançar um filme, "The Interview" (a entrevista), uma comédia sobre uma tentativa de assassinato ao ditador da Coreia do Norte. Mas num caso em que a vida real ultrapassa a ficção, um grupo de "hackers" (supostamente a mando do governo da Coreia do Norte) entrou nos sistemas informáticos da empresa e tomou controlo de todos os computadores (quando chegaram ao escritório os empregados tinham no ecrã uma mensagem dos "hackers"). Durante o ataque roubaram informação confidencial como vários filmes ainda não lançados, planos de novos projectos, aquisições e produtos, emails e informação pessoal dos empregados. A ameaça dos "hackers" foi ao ponto de que se lançassem o filme nos cinemas ia acontecer algo equivalente ao 11 de setembro nos cinemas (não se sabe bem o que significa). As maiores cadeias de cinema dos Estados Unidos decidiram não exibir o filme e a Sony cancelou o lançamento.
Tudo isto por um filme? Existe claramente um ataque à liberdade de expressão, e o próprio presidente dos Estados Unidos já veio comentar que a Sony não devia ceder a terroristas e decidiu colocar a Coreia do Norte numa lista de países que apoia o terrorismo. Mas a situação é mais grave do que parece pelo que antevê.
O mundo físico cada vez é mais controlado por sistemas e este caso levanta preocupações maiores. Apesar de muitas pessoas acharem excitante o tema do cibercrime e não lhe darem muita relevância imagine que em vez da Sony é uma linha aérea. Em vez de utilizar bombas para abater aviões o mesmo pode ser conseguido por entrar remotamente nos sistemas do avião. O programa nuclear do Irão foi atrasado por vários anos por um vírus informático (Stuxnet) criado supostamente pelo governo americano em conjunto com o governo israelita.
Temos de mudar. Este é o crime atual, muito real e provavelmente o mais perigoso. E se já existe alguma preocupação sobre o tema, há que tomar medidas claras de prevenção, processos de resposta e criar legislação com penas adequadas. Este tipo de criminosos tem de ter penas que reflitam a gravidade dos crimes e as empresas têm de ser responsáveis por ter medidas de segurança adequadas. Não existem sistemas impenetráveis, mas a maioria das empresas não investe o suficiente em segurança. A própria Sony já foi atacada várias vezes com sucesso no passado e suspeita-se que continuava sem os níveis de segurança que deveria.
Todos nós como utilizadores também não podemos "lavar as mãos". Temos de mudar de mentalidade e começar a entender que a privacidade e confidencialidade cada vez são mais difíceis de manter. O que está em formato digital tem o grande risco de se tornar público no futuro e se calhar devemos ter isso em conta cada vez que escrevemos um email.
O caso da Sony Pictures ainda vai dar que falar nas próximas semanas e infelizmente não conte que será o único nos próximos tempos. A nova guerra combate-se no ciberespaço e temos de nos preparar para enfrentá-la.
Partner litsebusiness.com e professor de e-commerce e marketing digital na Nova SBE
David Bernardo trabalha com internet e ecommerce desde 1999 e é partner da consultora LITS ebusiness (http://litsebusiness.com) tendo colaborado com várias das maiores empresas do sector na Europa, Estados Unidos e América ...