A porteira do Mundo

 

03 Dezembro2010

 

João Quadros

 

Esta semana, a WikiLeaks divulgou mais de 250 mil documentos, secretos, provenientes de embaixadas e consulados americanos de todo o mundo e entregou-os, antecipadamente, aos jornais "El País", "The Guardian", "Le Monde", à revista "Der Spiegel" e ao almanaque Borda D'Água; devido a uma confusão com a morada da Revista Maria.

 

A Administração dos EUA fez, de imediato, duras críticas à atitude da WikiLeaks - estamos perante o clássico caso do polícia e da porteira… do Mundo.

 

A divulgação e o conteúdo dos documentos permite duas conclusões e meia:

1 - O WikiLeaks é dirigido por porteiras;

2 - A maioria dos espiões/diplomatas faz o género de relatórios que faria a Suzete, do Cabeleireiro Glamour, se não estivesse tão ocupada a fazer extensões e acertar franjas;

2,5 - Julian Assange parece nome de laca.

 

É tudo muito pífio e triste. A motivação dos jornais e da WikiLeaks provoca vergonha alheia ao Watergate. E a actuação dos espiões é a que teria o "007" se fosse interpretado pela Margarida Carpinteiro. O próximo jornal que publicar tudo o que chega da WikiLeaks devia vir com oferta de roupa interior dos políticos e um frasco de gotas de visadron para fechaduras.

 

É anedótico. Diz o "The Guardian" , para o "Le Monde" - sabes que o maluco do Kadafi não pode viajar se não for acompanhado de uma "voluptuosa enfermeira" ucraniana? - Responde o "Le Monde" - Oui! Deve ser o único líbio que não tem problemas em entrar num avião com uma bomba! - E riem os dois - E vai o "Der Spiegel" e diz - Foi por isso que ele pediu, recentemente, ao Movimento dos Países Não-Alinhados para aceitarem a Ucrânia…no seu seio! - E ninguém se ri. Mas o alemão estava habituado.

 

Porque é que não vão todos tomar um copo ao KinkyLeaks e discutir a andropausa do Berlusconi e a megapausa da Merkel? E se o Medvedev é o Robin do Batman, Putin - que é uma frase que dita depressa, parece Peta Zetas na língua.

 

Se vamos continuar com a "Big Brotherização" dos políticos e, agora, dos países (cabe tudo - desde revelar estratégia militar na Bósnia ao que disse Maria de Belém quando entalou o penteado numa porta) não vai haver quem se salve. Porque, por mais estranho que pareça , os poderosos também vão à casa de banho e fazem cocó e chichi. Se os vigiarem 24 horas por dia, vão de certeza apanhá-los num politicamente incorrecto instante mortal. Se nos filmassem a fazer cocó, não teríamos cara para ir ao escritório. Se publicassem todas as nossas conversas telefónicas, ninguém no escritório quereria ver a nossa cara.

 

Eu não defendo que não se deva "ir atrás deles" e que não se tente descobrir, e revelar, se existiram, ou existem, podres nas nossas maçãs. Mas não a qualquer preço. E mesmo a qualquer preço, e por maior que seja a minha curiosidade, coisas que eu prefiro não conhecer - tal como nas massagens.

 

Por outro lado, anseio por mais coscuvilhice; apenas porque boa matéria para fazer humor. Como diz a minha porteira, que foi Cônsul em Lagos: "Não se pode viver com eles e não se aguenta viver sem eles". E também diz que senhora loira do quintoIsso queriam vocês. Por hoje, chega.