Fidel Castro, o 'imorrível'
14/08/2015
A imagem de Fidel Castro amparado por Evo Morales para sair de uma van, no dia de seu 89º aniversário (quinta, 13), fornece duas sensações opostas.
Primeiro, a de um vencedor.
Afinal, foi por Fidel que se arriou a bandeira norte-americana diante da embaixada em Havana, e é uma vitória para ele que o regime que encarnou tenha sobrevivido aos 54 anos de confronto e de tentativas de desestabilização.
Mas o vitorioso aparece, justamente na véspera da volta da bandeira ao mastro, tão caído, tão frágil, que dá pena.
Se eu fosse do ministério da propaganda de Cuba, esconderia Fidel para que a imagem dele permanecesse a do homem de espessa barba negra, vitorioso em Sierra Maestra, e não do ancião de barba rala e embranquecida que se viu na quinta-feira.
A menos que a propaganda cubana queira dizer que Fidel é "inmorrible", como se dizia, 40 anos atrás, de Francisco Franco Bahamonde, o "caudilho de Espanha pela graça de Deus", quando ele agonizava no seu Palácio do Pardo.
Foi tão longa a agonia que os espanhóis diziam: "Franco não é imortal, mas é imorrível".
Foi exatamente essa a sensação que tive ao ver as fotos de Fidel com Evo Morales.
Afinal, prognostiquei a sua agonia final já em 1997, ou seja, há quase um quarto de século.
Tudo porque encontrei-o em Genebra, após as comemorações do cinquentenário do Gatt (Acordo Geral de Tarifas e Comércio, rebatizado para Organização Mundial do Comércio).
Estava pálido, a barba já mostrava enormes falhas, tinha um cor de doente –exatamente como apareceu nas fotos deste agosto de 2015.
Ainda por cima, chegou a ser internado brevemente na cidade suíça naquela ocasião.
Na volta ao Brasil, fiz um relatório para a Direção de Redação, relatando as minhas impressões do encontro com Fidel e sugerindo que se enviasse alguém a Cuba para começar a levantar o material para o pós-Fidel, que eu achava que poderia não tardar muito.
Levou 11 anos para que a doença de fato o abatesse e o forçasse a transferir o poder para o irmão.
É claro que não é a mesma coisa um homem de 71 anos com a aparência de doente, como era o Fidel de 1997, e outra coisa o mesmo homem, com aparência ainda mais decaída, aos 89 anos.
Portanto, é possível que Fidel Castro de fato morra em breve. Mas eu continuo achando que ele é "imorrível"..