Gaza voltará à agenda do Brasil
17/08/2014 03h00
A guerra em Gaza parece ter chegado ao fim de mais uma de suas sangrentas etapas, mas nem por isso deixará de assombrar a agenda da diplomacia brasileira, exatamente aquela que foi definida como "anã" por Yigal Palmor, o porta-voz da Chancelaria israelense.
No fim desta semana, ocorre a cúpula da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) e o anfitrião, o uruguaio José Mujica, quer que o conglomerado defina uma posição conjunta a respeito do conflito.
"A Unasul nunca fugiu a seu compromisso de se manifestar sobre os assuntos mais relevantes da agenda internacional", diz, por exemplo, Luis Almagro, o chanceler uruguaio.
O presidente Mujica tem uma posição muito forte a respeito, mais forte do que a nota que o Itamaraty emitiu e provocou a reação de Israel, pela qual, posteriormente, o presidente Reuven Rivlin pediu desculpas. A propósito: no governo brasileiro, há quem ache que as desculpas não foram endossadas no braço executivo do governo (a Presidência, em Israel, é apenas cerimonial).
Para Mujica, o que houve em Gaza foi "genocídio". Como o anfitrião sempre influi na agenda das cúpulas, é razoável supor que essa posição agressiva permeará o encontro dos dirigentes da Unasul, ao qual Dilma não comparecerá, alegando compromissos de campanha.
Reforça a agressividade a posição tradicionalmente pró-palestina da Venezuela chavista, sempre ativa e loquaz nos encontros do bloco sul-americano.
A Venezuela rompeu relações com Israel em 2009. O atual presidente, Nicolás Maduro, qualificou como "guerra de extermínio" a ofensiva israelense em Gaza, posição que defenderá junto aos demais governantes da América do Sul.
A diplomacia brasileira não tem interesse em aprofundar a crise aberta nas relações com Israel. Torce até para que, quando a Unasul se reúna, já se tenha chegado a um trato permanente ou ao menos prolongado que interrompa a guerra.
Em princípio, o Brasil deve defender que a Unasul repita o que disseram quatro dos cinco membros do Mercosul (a exceção foi o Paraguai) na recente cúpula do grupo.
Na declaração final, o Mercosul condena "energicamente o uso desproporcional da força por parte do exército israelense na faixa de Gaza, que afeta uma maioria de civis, incluindo crianças e mulheres". Mas não deixa de condenar também "qualquer tipo de ações violentas contra populações civis em Israel".
É, pois, uma declaração moderada, mais ou menos em linha com o que disseram lideranças europeias e mesmo norte-americanas, tradicionalmente aliadas de Israel.
Goste-se ou não desse equilibrismo verbal, ele é indispensável se o Brasil quiser, em algum momento futuro, ser parte de qualquer negociação global sobre o processo de paz em Israel/Palestina.
Afinal, conforme afirma Thomas Carothers, o vice-presidente de pesquisas do Centro Carnegie, "a luta entre Israel e Gaza realça o fato de que o fracassado processo de paz entre Israel e os palestinos deixa de pé não um tolerável status quo', mas um conflito fundamental, que vai continuar resvalando para a violência".