Jornalista autor de denúncia diz que
morar no Brasil ajudou
ISABEL
FLECK
Foi a partir do
Rio de Janeiro que o jornalista
e advogado americano Glenn
Greenwald colheu a maior
parte das informações, publicadas
no "Guardian", que revelam
um esquema de escutas e monitoramento de dados de internet pelo
governo americano.
É
lá que Greenwald, 46, vive
e trabalha há oito anos. E, para
ele, o fato de estar no Brasil foi um facilitador para conseguir obter os documentos
e apurar a história que levou o presidente
Barack Obama a ter de se explicar.
"As
pessoas [fontes] pensam que estão
mais protegidas, por conta da
distância, e que eu estou menos
vulnerável a ser alvo de ações policiais ou processos judiciais
porque vivo no Brasil --que isso me dá
uma proteção adicional", disse Greenwald,
por telefone, à Folha ontem.
O
próprio jornalista considera ser mais difícil para o governo dos EUA monitorar seus telefonemas e mensagens de e-mail
por estar fora do país. "Não estar em
Nova York e em Washington e não
estar conectado socialmente às pessoas que cobrem
política me permite ser mais independente."
Greenwald
mora no Rio com seu companheiro, um brasileiro. O casal decidiu ficar
no Brasil porque os EUA não
reconhecem a união estável entre gays para solicitar residência permanente. À reportagem disse, em português,
já ser "um carioca".
E,
pelo envolvimento com o Brasil, uma das primeiras preocupações de
Greenwald quando começou a vasculhar as informações repassadas a ele foi a vulnerabilidade dos internautas brasileiros.
"Logo
pensei no caso do Brasil, porque todo mundo que
eu conheço aqui usa Facebook
e Skype", disse. Para ele,
seria "ridículo" pensar que os
usuários dos dois serviços no Brasil não foram monitorados
pelo governo americano. "Provavelmente foram", arrisca.
Greenwald
é advogado e chegou a trabalhar para um grande escritório em Nova York antes de abandonar a
carreira. Em 2005, inaugurou um blog, onde sempre publicou matérias sobre segurança nacional e liberdade civil. Ele contribuiu por muitos anos para
a revista digital "Salon" e hoje mantém uma
coluna no britânico
"Guardian".
O
americano diz que obteve de um leitor o documento comprovando o monitoramento.
"Ele disse que conhecia o meu trabalho e que esperava que
eu fosse atrás da história de forma agressiva."
A
divulgação das escutas ocorre no momento em que o soldado
Bradley Manning é julgado nos
EUA pelo suposto vazamento de documentos ao WikiLeaks, e
Greenwald sabe que não está livre
de processos. "Com um vazamento
dessa magnitude, o governo vai tentar encontrar
um responsável, mas já era esperado."