Editorial: Tropeços de Romney

 

Faltando apenas seis semanas para o pleito presidencial americano, o candidato republicano à Casa Branca, Mitt Romney, enfrenta a sua pior crise, que veio reforçar o favoritismo do postulante democrata à reeleição, Barack Obama.

 

As pesquisas dos últimos dias ainda registram empate técnico entre os dois, com o atual presidente numericamente à frente, por cerca de três pontos percentuais, na média dos levantamentos.

 

A vantagem de Obama cresce quando se considera a situação em Estados-chave para a votação, que podem lhe dar número bem maior de delegados no colégio eleitoral.

 

Na quinta-feira, um dos principais assessores de Romney abandonou a cúpula da candidatura de oposição. A baixa se seguiu à revelação, no início da semana, de um vídeo em que o candidato, ao discursar para doadores de campanha, faz declarações desastrosas sobre quase metade do eleitorado.

 

Segundo Romney, 47% dos votantes não pagam impostos, dependem do Estado e não estariam dispostos a assumir responsabilidades individuais e cuidar de suas próprias vidas. O republicano disse a doadores que essa fatia do eleitorado, na qual se encontra a parcela mais pobre da população, está decidida a votar em Obama.

 

Em muitas democracias, tal declaração arruinaria as perspectivas eleitorais de Romney. No ambiente de polarização ideológica que caracteriza o debate público nos EUA, não se pode ter essa certeza.

 

O discurso do ex-governador de Massachusetts, afinal, reproduz uma opinião corrente nos Estados Unidos, sobretudo em meio à parcela da classe média baixa que sua qualidade de vida piorar.

 

Essa visão atribui a situação econômica e social do país aos programas sociais governamentais, voltados para as franjas mais pobres da população, tradicionalmente compostas por negros e latinos.

 

pelo menos duas ironias nesse comportamento da base política mais radical de Romney.

 

A primeira está no fato de muitos desses eleitores, sobretudo nos Estados do Sul, também dependerem de ajuda federal, como o programa "food stamps" -uma espécie de "cartão-alimentação" dos EUA.

 

A segunda, e mais destacada, é que a ênfase em temas ideológicos -como o casamento gay, os direitos das mulheres e o tamanho do Estado- tende a favorecer eleitoralmente Obama.

 

O esperneio conservador dos republicanos mais extremados, note-se, deixa em segundo plano o debate sobre a economia do país, terreno em que o atual presidente tem colhido resultados medíocres.