Cyberguerra, em gotas
09/12/2010
Não é o conteúdo, mas a forma a grande novidade do WikiLeaks, a notória e obscura organização que vazou na
rede mundial toneladas virtuais de documentos da diplomacia americana.
O episódio
vai entrar para a história mais como
um marco da emergente, opaca e assimétrica cyberguerra global do que pela rica coleção
de obviedades e fofocas ultraqualificadas reveladas até agora.
Quem
é o inimigo dos EUA neste caso? O esquisito Julian Assange, fundador do Wikileaks? Ou seus apoiadores? Quais apoiadores? Seria ele um testa
de ferro? De quem?
Uma coisa sabemos:
o ataque do Wikileaks
contra os EUA mostra como mesmo
o país mais poderoso do mundo pode sangrar diante
de um inimigo minúsculo, mas incontrolável.
A prisão
de Assange no Reino Unido por acusação
de estupro na
Suécia e o cerco aos sites que publicam
suas gotas de informação não parecem capazes de estancar o vazamento. E há promessas/ameaças de que chumbo mais grosso
vem por aí.
Rumores sobre a divulgação
iminente de documentos comprometedores de um dos maiores
bancos do mundo derrubaram suas ações na
Bolsa de Nova York.
É uma guerra que
de virtual não tem nada e que
pode ser travada entre pessoas, empresas, organizações, países ou qualquer combinação
desses atores.
Sites de pessoas
e organizações que de alguma forma ajudaram no cerco ao WikiLeaks
e na prisão
de seu chefe sofrem agora cyberataques furiosos do que dizem ser hackers solidários.
E hackers
podem ser de solitários cavaleiros da web a militares armados de super computadores.
Todos somos hackers. Pense na sua capacidade
de acessar, armazenar e divulgar dados sobre terceiros. Ela é imensa. E não pára de crescer.
O mundo real está cada vez mais
convergente com o mundo
digital.
Nossa dependência total da
internet mostra como
a rede mundial é o fenômeno mais importante
no mundo hoje. Não pode haver
nada mais poderoso do que conectar todas
as pessoas do mundo ao mesmo tempo e sempre.
Mal começamos a sentir os efeitos desse
novo "big bang". Para o bem e para
o mal.
O WikiLeaks
é só um aperitivo do que vem por
aí. Prepare-se se puder.
Sérgio Malbergier é jornalista. Foi editor
dos cadernos Dinheiro
(2004-2010) e Mundo (2000-2004), correspondente
em Londres (1994) e enviado especial da Folha a países como Iraque,
Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu
dois curta-metragens, "A Árvore" (1986) e "Carô no Inferno" (1987). Escreve para
a Folha.com às quintas.