Diplomacia exótica e imatura
Sérgio
Malbergier
10/06/2010
A derrota
da diplomacia brasileira no
Conselho de Segurança da ONU na votação das sanções contra o Irã precisa ser desconstruída.
Há
uma vitória dentro da derrota. O nome do Brasil aparece
em todos os noticiários do assunto. Se os americanos estão certos de que não
existe propaganda negativa,
a projeção diplomática, mesmo derrotada e equivocada, algum benefício traz.
A estatura
e a projeção global do Brasil
cresceram muito na Era Lula, mérito
seu e da pujança econômica. Combinados, o desenvolvimento econômico e a estabilidade político-institucional
destacam o Brasil dos outros leões emergentes.
Mas a qualidade da nossa política externa econômica é muito superior à da nossa política externa política. Em fóruns como o FMI, o G20, a OMC e
o BIS (que reúne os Bancos
Centrais), nossa liderança é menos estridente e mais eficaz.
No Fundo Monetário,
que um dia nos subjugou, conseguimos
mais poder em parceria com outros emergentes, fortalecidos na
crise. No BIS, o representante do Brasil, Henrique
Meirelles, ocupa cadeira no importante conselho diretor do órgão, do alto de U$ 250 bilhões
de reservas internacionais.
Na OMC, nosso voto é valioso e influente. No G20, somos ouvidos como um país que navegou bem
pela tempestade financeira.
Mas no Conselho
de Segurança da ONU não somos ouvidos
por muita gente.
Dos 15 membros
do órgão executivo da ONU, só Brasil
e Turquia votaram a favor
do Irã e contra as novas sanções
por causa do programa nuclear clandestino da teocracia islâmica.
O Brasil
mergulhou de cabeça na política do Oriente Médio embora
não tenhamos protagonismo na região desde que
Oswaldo Aranha conduziu a sessão do Conselho de Segurança que aprovou a Partilha
da Palestina entre israelenses
e palestinos, no distante
1947. Se é fácil entender por que
a Turquia votou pelo Irã, é difícil
justificar nossa posição em Nova York.
Como explicar
nosso alinhamento com Teerã contrariando grandes e tradicionais aliados políticos e econômicos como
Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, França e os países árabes
(que temem tanto quanto Israel uma bomba iraniana)?
O que ganhamos ao defender um regime tão opressor e com tantos inimigos?
Ganhamos voz no cenário externo e autonomia, ativos importantes. Mas
o Brasil não precisa perder tanto para ter
esse ganho, que, inclusive, já está dado. Parecemos adolescentes querendo
mostrar que crescemos ao contrariar
os adultos.
No Oriente
Médio isso fica mais
aparente dado nosso até aqui pouco
entendimento e envolvimento.
Mesmo nas Américas, onde não somos ingênuos
mas ficamos
excessivamente confiantes, empacamos em organizações
supranacionais esvaziadas ou divididas. E o objetivo de reformar o Conselho de Segurança fica mais
distante quando temos Ahmadinejad a defendê-lo ao nosso lado.
Já chegou a hora de o Brasil político seguir o econômico e se tornar um player decisivo e agregador nos grandes debates internacionais. Hoje somos mais parecidos com quem nossa política
externa teima em nos afastar
do que com quem ela nos alinha.
Está na
hora de entrar na OCDE, a organização
de países mais desenvolvidos do mundo, que nos convida
há anos e onde pertencemos. Este terceiro-mundismo extemporâneo é o derradeiro complexo de vira-latas. Nossa política externa exótica e imatura é a sua maior manifestação.