Nunca antes na
história deste planeta um mestiço afrodescendente foi seu habitante mais
poderoso. Não mais. Por mais que as pesquisas já indicassem a vitória de Barack Obama, ela é tão épica e multidimensional que nos enche
de espanto e ânimo.
Obama é um fenômeno
global, sua vitória reflete não só
a escolha da maioria dos americanos, mas da grande maioria
dos seres humanos. O que lhe dá
ainda mais legitimidade como
líder. E liderança será preciso para
tirar o mundo dessa recessão que ainda não
tem tamanho, mas
parece feia.
Tanto melhor que
sejam os Estados Unidos da América os
provedores desse raio renovador na deprimida
cena global. Entre as verdadeiras heranças malditas legadas por oito anos
de bushismo, talvez a pior seja o agudo
e estúpido antiamericanismo.
Tão irracional quanto disseminado, ele alimenta e para alguns até
justifica forças obscurantistas e perigosas como o neoczarismo
russo, o absolutismo chinês, o petropopulismo chavista, o messianismo nuclear iraniano, o terrorismo islamofascista.
Conceitos absurdos como o de que os
EUA são um país de brutos, ignorantes e caipiras são cuspidos pela
suposta intelligentsia mundial
apesar de o país ter as melhores universidades do planeta, ser seu maior produtor
e consumidor de cultura,
ser a nação mais inovadora e criadora de tecnologias, ter o maior número de prêmios Nobel, ter inventado a internet e o YouTube, ser de longe ainda a maior
economia do mundo.
E aquela conversa de que "Nova York é
fantástica, mas
não tem nada a ver com os Estados Unidos"?
Seria como
dizer que "São Paulo é
fantástica, mas não tem nada a ver com o Brasil".
E aqueles que achavam impossível
os EUA, tão
"racistas e reacionários",
elegerem um presidente negro e progressista de forma tão decidida? (Alguém arrisca dizer em que
ano o Brasil, com muito mais afrodescendentes,
terá um presidente negro?)
Os americanos não poderiam dar
resposta melhor ao mundo(e ao bushismo)
do que conduzir Michelle e
Barack Obama à Casa Branca.
Não que sua fulminante vitória eleitoral, por mais impactante
e transformadora, garanta
um final feliz para a triste história de George W. Bush
em Washington. Os desafios são tão grandes
quanto seu triunfo, se não maiores.
Mas a satisfação global com a inspiradora conquista
de Obama já dá algum alento a um mundo em desaceleração,
quase parando.
Vamos torcer por Obama e pelo que sua impressionante
vitória representa. Hoje, somos todos americanos.
Sérgio Malbergier é editor do caderno Dinheiro da Folha de S. Paulo. Foi
editor do caderno Mundo
(2000-2004), correspondente em
Londres (1994) e enviado
especial a países como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros.
Dirigiu dois curta-metragens, "A Árvore"
(1986) e "Carô no Inferno" (1987). Escreve para a Folha Online
às quintas. |