Big Bang 2

 

26/09/2008

 

By Sérgio Malbergier

 

George W. Bush, 62, vale um fado. O destino o pegou, duas vezes, em cheio.

 

Na primeira, os aviões-bomba do 11 de setembro de 2001 pegaram o presidente com menos de nove meses no posto mais importante do mundo, mas com pouca experiência internacional. Refugiou-se na sabedoria dos falcões do Pentágono e da vice-presidência, e o mundo nunca mais foi o mesmo.

 

O segundo big bang de Bush é o colapso do sistema financeiro americano, que nunca mais será o mesmo. Mas Bush jogou para a história seu legado e, "lame duck" por excelência, delegou agora a um instintivo falcão de Wall Street, o secretário do Tesouro, Hank Paulson, e a um reflexivo acadêmico de Princeton, o presidente do Fed, Ben Bernanke, a administração quase impossível do colapso financeiro.

 

E quis a história que esse segundo bang ocorresse a menos de seis semanas de uma das eleições presidenciais mais disputadas dos EUA. Então, não é a economia, estúpido, mas a política.

 

A forma como John McCain e Barack Obama se comportarem diante da crise econômica pode definir quem sucederá Bush no ainda posto mais importante do mundo. E é muito pior quando a política contamina a economia do que quando a economia contamina a política.

 

McCain parece perdido, assim como a direita republicana, que fez vista grossa aos papéis-bomba de Wall Street.

 

O impasse é perigoso e fruto da divisão do poder: Executivo republicano, Congresso democrata. A maioria legislativa democrata quer impor suas mudanças ao plano do executivo republicano.

 

Para piorar, os próprios republicanos mais sectários não aceitam o intervencionismo e a largueza fiscal do pacote Paulson-Bernanke. Para piorar, a proximidade das eleições é uma tentação para todo tipo de exibicionismo político e populismo. Para piorar, Bush não exerce praticamente nenhuma liderança, como ficou provado no encontro frustrante que promoveu na Casa Branca com Obama, McCain e os líderes do Congresso.

 

A fraqueza americana está exposta de forma tão global quanto o alcance da crise. Pontas extremas tripudiam o gigante americano, da economista luso-brasileira Maria da Conceição Tavares ("o século 21 não será norte-americano") ao ministro de Finanças alemão, Peer Steinbrück ("os EUA perderão seu status de grande potência do sistema financeiro mundial"), passando, claro, pelos suspeitos de sempre (Chávez, Ahmadinejad, Kirchner etc) e o presidente Lula e seu chanceler, Celso Amorim.

 

Lula é dos mais brincalhões com a situação americana. fez propostas piadas e propostas sérias, o que deve confundir a mesa de Brasil no Departamento de Estado americano. Ele deveria tratar a crise com mais gravidade. E preparar o país para ela.

 

Se não ficará como aqueles brasileiros cheios de razão que atacam brutalmente as torturas cometidas pelas tropas americanas contra prisioneiros estrangeiros em Guantánamo, mas nada falam sobre policiais brasileiros torturando cidadãos brasileiros numa delegacia perto da sua casa.