09/09/2008
Acredite. O presidente dos Estados Unidos, George Bush, provocou um clima de festa entre os petistas reunidos ontem para comemorar
o aniversário de 200 anos
do Ministério da Fazenda. Ministros, assessores e economistas ligados ao PT não
se continham de felicidade ao comentar a decisão
do norte-americano de soltar
um megapacote de ajuda financeira de US$ 200 bilhões a duas instituições falidas do setor imobiliário. "Colocaram o último prego no caixão do neoliberalismo",
era o que mais se ouvia nas rodinhas
de conversas antes, durante e depois do evento realizado aqui em Brasília.
Dilma Rousseff, ministra da Casa Civil e a candidata presidencial do presidente Lula, fazia questão de dizer que os
Estados Unidos nunca praticaram o neoliberalismo puro. Não só eles, mas
também a Europa e Japão, afirmava ela, acrescentando que sempre recomendaram
que os países
em desenvolvimento seguissem essa receita econômica. Mais ou menos
na linha
façam o que digo, não façam
o que faço. Ou, nas palavras
literais da ministra, que defendeu
a medida do governo norte-americano: "Essa história de neoliberalismo só vale para nós.
Nunca houve neoliberalismo no mundo capitalista desenvolvido".
A satisfação era tanta que
havia petista fazendo uso de algo que sempre
criticaram no passado para alfinetar os Estados Unidos.
Foi o caso da economista
Maria da Conceição Tavares.
"Enterraram o neoliberalismo de uma maneira trágica. Custou uma fortuna. O nosso Proer foi mais
baratinho", ironizou, recordando o programa lançado no governo Fernando
Henrique Cardoso para socorrer
bancos falidos. Programa semelhante ao lançado
pelos Estados Unidos agora e tão bombardeado pelo PT naquela época no Brasil.
Engraçado foi ouvir
de petistas não só ironias, mas também elogios ao governo
norte-americano. Na verdade, elogios irônicos. "É o pragmatismo
responsável", destacou
o ministro Guido Mantega (Fazenda), quando foi questionado sobre o socorro
às duas gigantes
do mercado imobiliário norte-americano. "Desmistifica
a idéia de que mercados livres
sempre levam ao melhor resultado",
acrescentou o secretário de
Política Econômica do Ministério da Fazenda,
Nelson Barbosa.
Nas rodinhas do evento, apesar dos comentários irônicos, todos defendiam a medida sob a justificativa de que seria um desastre
para o mundo se as duas gigantes Fannie Mae e
Freddie Mac quebrassem. É isso aí. Nada como um dia
depois do outro. Ou melhor, nada como chegar
ao poder depois de ter sido
oposição. O que ontem era criticado aqui, hoje é elogiado
ali. Não
sem boas alfinetadas.
Valdo Cruz, 46, é repórter especial da Folha. Foi diretor-executivo da Sucursal de Brasília durante
os dois mandatos
de FHC e no primeiro de
Lula. Ocupou a secretaria
de redação da sucursal e atuou como repórter
de economia. Escreve às terças.
E-mail: valdo@folhasp.com.br