De San Diego a Boston – Politicamente correto enfraquece brancos e protestantes nos EUA
por Gustavo Chacra
20.abril.2010
Os WASPs americanos, aos poucos, perdem o status de elite
superior. Para quem não conhece
a sigla, ela significa White, Anglo-Saxon and Protestant. No passado, eram os
mais ricos, os acadêmicos, os políticos, os
atletas, os juízes da Suprema Corte e basicamente toda a classe mais elevada
americana. Judeus e outros imigrantes cresceram economicamente ao longo das primeiras décadas do século 20. Seus filhos se sentaram nas salas
de aula de universidades da Ivy League, como Harvard e Yale. Negros e hispânicos se tornaram destaques nos esportes. Mas na política e na Justiça,
o domínio era dos brancos protestantes, com raros casos como o do jurista judeu Benjamin Cardozo.
Até a eleição
presidencial passada, todos os candidatos
sempre haviam sido homens e brancos.
O único presidente não protestante foi John Kennedy, que era católico. Obviamente, o primeiro negro é Barack Obama.
Nova York tem prefeito judeu
e já elegeu negros, assim
como Washington. A Califórnia tem um governador austríaco. Pouco ainda para dizer que os
WASPs não dominam mais a política. Mas e se olharmos para Suprema
Corte? Com a aposentadoria de John Paul
Stevens, anunciada na semana passada, não haverá
nenhum protestante na Suprema Corte. Apesar de representar quase 60% da população americana, os
antes dominantes protestantes
estarão fora do Terceiro Poder – os demais membros
são católicos (5) e judeus (2). Isso, claro, se um protestante
não for nomeado.
Os EUA não são
os únicos países que viram
uma elite dominante perder espaço. Os cristãos maronitas libaneses ainda detém o posto
de presidente pela Constituição do Líbano. Mas, divididos desde a Guerra Civil, hoje possuem uma
força política inferior a
dos sunitas e xiitas.
Os afrikaners (brancos de origem holandesa) da África do Sul, controladores do país durante o Apartheid, vêem hoje o poder
político nas mãos dos negros e o econômico com os brancos de origem inglesa.
Entre os
americanos, a mudança ocorreu dentro do movimento dos direitos civis, que sempre
buscou a igualdade
entre as raças e religiões nos EUA. E esta existe hoje.
Ser judeu ou mesmo muçulmano não impede ninguém de alcançar um cargo nos EUA. Concordo, seria complicado os americanos votarem
em um islâmico para presidente, mas eles possuem
uma renda per capita
superior à média americana. Os negros
já fizeram um presidente e dois secretários de Estado – ambos no conservador
governo de George W. Bush. Os últimos três presidentes
escolheram mulheres para dirigir a sua diplomacia. Será questão de tempo até uma chegar
a ser presidente.
Ao
mesmo tempo, esta defesa das minorias acaba prejudicando quem nasceu homem,
branco e protestante nos EUA. A maioria
destes WASPs não nasceu em uma
família rica do
Upper East Side de Nova York, não estudou
em um colégio privado de Connecticut e se formou
em Princeton. São pessoas comuns, desempregadas em Detroit ou Chicago, que acabam sofrendo por não pertencerem
minorias. Não possuem
vagas especiais em universidades e tampouco entram nas listas politicamente
corretas de nomeações.
Foram tantas que esqueceram de colocar os protestantes
na Suprema
Corte nos últimos anos.
OUTRO LADO – A maioria do Congresso americano ainda é branca e protestante. Negros sofrem com o preconceito
nos Estados Unidos. Muçulmanos reclamam do tratamentos recebido da mídia. Judeus temem o fortalecimento de grupos neonazistas. Hispânicos possuem uma renda
per capita bem inferior ao restante dos americanos. O
percentual de negros
nas cadeias é bem superior ao de brancos. Obama pode ser negro, mas sua
mãe era branca e seu pai veio
da África. Ele não tem envolvimento com os grandes movimentos
negros do Harlem ou do sul dos EUA.
A presença de mulheres, negros, judeus
e católicos na Suprema Corte pode ser vista como um avanço, e não uma decadência
dos WASPs. Às vezes, o politicamente
correto ajuda.