Depois do G-8, é cada
um por si
Rolf Kuntz*
Os preços
do petróleo só deverão cair gradualmente
nos próximos cinco anos, segundo
avaliação do Fundo Monetário Internacional (FMI), baseada na evolução dos mercados de futuros. Os preços dos alimentos
poderão recuar, também gradualmente, em prazo mais
curto. Algumas cotações cederam
recentemente e previsões de
melhores safras já influenciaram os negócios com trigo. Mas
o custo dos insumos, em grande parte
determinado pelos preços do óleo e de seus derivados, continuará a pesar. Nenhuma dessas projeções foi alterada
pela inútil conferência de cúpula do Grupo dos 8 (G-8), formado pelas sete principais
economias capitalistas e pela Rússia.
Sobrou apenas uma
clara mensagem,
e nada animadora, de todo o
falatório da reunião encerrada ontem na ilha
de
Por
enquanto, essa ajuda está sendo
proporcionada principalmente,
e quase exclusivamente, pelo Banco Mundial (Bird) e pelo FMI. O Fundo já
está empenhado em programas de auxílio financeiro a Benin,
Burkina Fasso, Quirguízia, República Centro-Africana, Haiti, Mali e Níger e poderá estender o socorro a outras economias atingidas pelo choque externo.
Sem perspectiva de ação articulada, cada governo e cada banco central terão de traçar estratégias próprias para deter a disparada de preços e evitar a escalada inflacionária, devastadora principalmente para os assalariados e, de modo geral, para
os pobres. O recado mais sensato
foi transmitido em Hokkaido pelo diretor-gerente do FMI, Dominique
Strauss-Kahn, convidado para
o evento do G-8. "Quando
vocês se inquietam com os preços altos do petróleo e da comida, devem pensar no crescimento, mas
deveriam preocupar-se ainda mais com a inflação", recomendou. A expansão da
economia mundial já está prejudicada
pelo aumento dos preços do petróleo - cerca de 70% desde o começo do ano. Esse encarecimento deve cortar entre
0,75 e 1 ponto de porcentagem
do crescimento econômico em 2008. Mas a pressão inflacionária não está restrita
aos mercados de petróleo e de alimentos, lembrou o diretor-gerente do FMI.
O desafio,
agora, é limitar os efeitos de segunda ordem, a generalização dos aumentos de preços, observou Strauss-Kahn. Se o contágio
continuar, o ajuste dos mercados será retardado,
a expectativa inflacionária dificultará o crescimento e os pobres serão prejudicados,
por serem menos capazes de se defender da inflação, argumentou
o diretor-gerente do FMI.
No Brasil,
o contágio é cada vez mais evidente.
Já não se trata apenas
de inflação importada, nem de pressões localizadas setorialmente.
Na economia
brasileira, a permanência
de contratos indexados eleva o risco de transmissão da alta de preços.
Esse risco é cada vez mais
claro na
evolução dos Índices Gerais de Preços (IGPs) calculados pela Fundação Getúlio Vargas. O IGP-DI de junho,
divulgado ontem, subiu 1,89% em junho. A elevação em 12 meses chegou a 13,96%. O Índice de Preços por Atacado (IPA), item mais importante do índice geral, aumentou
2,29% no mês passado e
17,90% em 12 meses.
O aumento
dos preços por atacado não se transfere necessariamente ao varejo, mas
o repasse é tanto mais fácil quanto
mais forte a demanda final
e menor, portanto, a resistência em cada elo da
transformação e da circulação de mercadorias.
A grande tarefa das
autoridades monetárias, nesta altura, é criar barreiras ao repasse e à
contaminação dos preços e
dos salários. O aumento da inflação foi classificado
pela Confederação Nacional da Indústria
(
*Rolf Kuntz é jornalista