União Europeia dividida na
encruzilhada
21/05/12
Bruno Proença
O ponto alto da última reunião do G8 foi quando ninguém fez nada. A cimeira resumiu-se a Obama, Merkel e companhia a assistirem à final da Liga dos Campeões.
A Europa no fio da navalha, o que terá consequências na economia mundial, e o resultado da reunião dos países mais ricos do mundo é um vácuo. É uma listagem das convicções de cada um: os EUA querem mais crescimento económico, a Alemanha mais austeridade, França prefere as ‘eurobunds' e a Inglaterra não quer nada. Quando os políticos são fracos e vivem para as suas agendas internas, é difícil melhor.
A União Europeia vive um perigo iminente de implosão. Uma política de consolidação orçamental sem a devida compensação na parte monetária condena os países à recessão e ao desemprego. Pois é isso precisamente que está a acontecer. Doses cavalares de austeridade orçamental para corrigir os delírios keynesianos do passado e a política monetária a ajudar à desgraça, com o Banco Central Europeu agarrado à meta cega dos 2% para a taxa de inflação. Mais uma imposição à Europa da ortodoxia alemã.
Nesta altura, em que a política orçamental não pode ser usada para promover o crescimento económico, o BCE já devia estar a copiar a Reserva Federal norte-americana, tomando medidas para retirar a Europa da recessão. Por outras palavras, devia carregar no botão e imprimir euros, passando mais fundos para os bancos de forma a promover a actividade económica. E, durante algum tempo, a meta de inflação de referência devia passar para os 4%. Para momentos excepcionais, medidas excepcionais.
Mas nada disso. Os alemães, ainda agarrados aos traumas da hiperinflação que levaram Hitler ao poder, não permitem este tipo de soluções. Assim, preferem condenar a Europa ao empobrecimento que está a provocar precisamente o renascer das forças extremistas em vários países. As votações em França e Grécia são apenas os últimos exemplos.
A União Europeia não está em perigo pela crise económica. No passado já houve várias e todas foram ultrapassadas. A Europa poderá não sobreviver à crise política e social que está a colocar em causa os seus valores tradicionais de democracia, tolerância, desenvolvimento e solidariedade. A saída da Grécia do euro tem um valor simbólico que vai para além das questões económicas. Demonstra que há, pelo menos, duas Europas e que a do norte pensa ter superioridade moral sobre os países do mediterrâneo.
A solução para esta crise está em mais federalismo, com instituições europeias mais fortes e mais união. Mas será que os povos e os políticos vão sair das actuais trincheiras e seguir um caminho comum? Ou a União Europeia nunca passará de uma utopia? Neste momento, há mais dúvidas do que certezas.
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Bruno Proença, Director executivo
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