Europa-América
A Europa observa em Barack Obama
a antítese de George W. Bush. Face ao estado do mundo,
essa diferença pode fazer toda
a diferença.
Carlos Marques de Almeida
Definitivamente, Barack Obama é o candidato da Europa. O facto de ser negro, praticar um discurso social e cultivar uma imagem casual e sofisticada, fazem de Obama o retrato perfeito da América liberal. Mesmo que o senador
seja um produto dos
‘talk-shows’ e uma figura
de estilo envolvida no
ideal da “mudança”, a Europa observa em Barack Obama
a antítese de George W. Bush. Face ao estado do mundo,
essa diferença pode fazer toda
a diferença. Visto do velho continente, Obama simboliza o espírito americano num coração europeu. Barack Obama pode
não representar a total complexidade da América, mas representa
certamente a América que existe na fantástica imaginação da Europa.
Numa nação americana ainda marcada pelas “guerras culturais” dos anos 60, as questões da raça, da
religião e do género continuam a condicionar o discurso político. Talvez de modo surpreendente, Barack Obama parece perfilar-se
enquanto candidato de uma nova era, distante do universo estafado das políticas radicais
e identitárias. Na aspiração
a uma nova era, Obama aproxima-se de Ronald Reagan, não
na proposta
política, mas pelo menos na
presença e na oratória inspirada. Tal como Reagan conseguiu unir em coligação os
conservadores fiscais, sociais e nacionais, se Obama alcançar o pleno de uma “grande
coligação social” em torno do Partido Democrático, talvez o sonho de Obama se transforme na revolução
Obama.
De modo compreensível, Barack Obama revela
todo um discurso político centrado na ideia
e na “audácia da esperança”. Para uma Europa onde a palavra
remete para uma realidade remota,
convém sublinhar que a esperança é a versão secular de uma ideia de fé. Em
termos políticos, a esperança implica a tolerância no presente e a idealização de um destino comum. Quando Nicolas Sarkozy designa o seu plano para as ‘banlieues’ de “Esperança Subúrbio”, estará a precisamente a invocar o apelo político da esperança. Em
rigoroso contraste, quando o Papa Bento XVI se vê impedido de discursar na Universidade
de Roma, “La Sapienza”, observa-se
a recusa da esperança e o apelo para uma visão
parcial e sectária que ameaça a tolerância
enquanto regra universal da civilização do Ocidente.
Em Portugal, o argumento político da esperança
é um recurso raro, mas comum. Comum
no discurso, mas
raro na acção.
Pela virtude do Governo e pelo estado da Nação,
Sócrates é o Barack Obama nacional. Sendo assim, ainda
haverá lugar para a esperança em Portugal?
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