A europeização da América

 

No lugar de Aznar e Berlusconi, encontramos Obama e Huckabee, cuja ascensão recente manifesta uma ânsia poderosa por uma nova maneira de fazer política.

 

Bruno Maçães

 

muito que, por fragilidade nossa, a questão europeia reside em saber se e com que extensão as nossas política e sociedade devem ser americanizadas. Surpreendentemente, eis que a mesma questão emerge com sentido oposto na campanha eleitoral americana, embora até agora ninguém a tenha colocado nestes termos, até porque o interesse pelas ideias europeias é muito pequeno no outro lado do Atlântico. No lugar de Aznar e Berlusconi, encontramos os dois políticos cuja ascensão recente manifesta uma ânsia poderosa por uma nova maneira de fazer política.

 

À direita, é cada vez mais difícil contrariar as tendências de uma política social inspirada em virtudes religiosas. Huckabee tem posições morais perfeitamente alinhadas com as igrejas evangélicas, mas ataca a avareza de Wall Street, é contra o comércio livre e, enquanto governador do Arkansas, quase triplicou o orçamento estadual. Segundo o candidato, todos os impostos são justificados se ajudarem a fazer as crianças felizes. Uma vitória sua anunciaria o fim da coligação conservadora, separando a defesa de valores morais tradicionais da promoção de um governo pequeno e impostos baixos. O que surge no seu lugar não é senão a velha democracia cristã europeia.

 

O outro candidato da mudança fala em nome do grande valor da esquerda europeia: o diálogo. Barack Obama começa por criticar o feroz partidarismo da política americana, o gosto pelo conflito e pela destruição dos adversários, exactamente aquilo que me faz perder três horas por dia a acompanhar esta campanha. Insiste numa política externa tão pouco dominada pelo interesse nacional quanto possível. Sobretudo, ameaça desmontar todas as instituições económicas onde a procura do lucro se sobrepõe ao diálogo e argumentação racional. São ideias estranhas e potencialmente perigosas. Será importante que a exigência de argumentação também se aplique a este programa filosófico radical.

 

Julgo que não me enganarei se disser que, à medida que as vão conhecendo melhor, os eleitores acabarão por recusar estes novos programas, por fundamentalmente aversos à cultura política americana. Obama e Huckabee defendem um conjunto de ideias tão radicalmente diferentes das ideias políticas americanas que, durante algum tempo, ninguém soube como as criticar devidamente. O reverso da medalha é que as mesmas ideias não tiveram tempo para convencer ninguém, para além da sedução da novidade, e são por isso extremamente vulneráveis.

 

Onde ponho o meu dinheiro? Eleição geral entre Obama e McCain, vitória de McCain.