As coisas da Internet

 

por Mónica Bello

 

29 agosto 2015

 

1 Dois investigadores do Instituto Americano para a Investigação Comportamental e Tecnologia estudam vários anos aquilo a que eles chamam "efeito de manipulação do motor de busca". Robert Epstein e Ronald E. Robertson publicaram agora um novo estudo em que avaliam o impacto nos resultados eleitorais das pesquisas realizadas na internet. Eles não têm dúvidas de que o efeito de manipulação existe e de que "é um dos maiores efeitos comportamentais descoberto até à data". Epstein e Robertson identificaram cenários em que o motor de busca Google - mesmo sem o conhecimento dos respetivos administradores - pode ter um efeito decisivo nos resultados das presidenciais norte-americanas do próximo ano. Submeteram mais de 4500 pessoas a experiências e descobriram que numa única sessão de pesquisa conseguiam aumentar o número de pessoas que apoiavam determinado candidato entre 37% e 63%, concluindo ainda que o algoritmo de busca do Google pode mudar o voto dos indecisos em 20% dos casos, podendo chegar a 80% em alguns grupos demográficos. A investigação foi realizada em dois países, um deles os EUA, mas Epstein diz ao DN (páginas 14 e 15) que as conclusões do estudo se aplicam "claramente" a qualquer país. Sabemos que a Google altera o algoritmo de busca cerca de 600 vezes por ano, sendo provavelmente um dos segredos mais bem guardados do planeta. Subir no ranking de resultados do motor de busca é um objetivo de qualquer marca que se preze, incluindo candidatos a chefes do governo e do Estado. Hoje não campanha eleitoral decente que não contrate um especialista em otimizar resultados de busca - a ideia é aparecer sempre nos primeiros lugares com notícias positivas e profissionais especialistas na matéria. Legitimamente e não é segredo. Não vamos deixar de usar o Google, convém apenas não deixar de usar o cérebro.

 

2 Na segunda-feira, quase um em cada sete habitantes do planeta foi ao Facebook falar com a família, os amigos, comentar, partilhar, coscuvilhar, ler notícias e de tudo um pouco que se pode fazer na maior rede social do mundo - incluindo aquilo que não se deve fazer por razões conhecidas de segurança. Mil milhões de pessoas, um recorde que Marc Zuckerberg, o fundador e presidente executivo, referiu com orgulho, mais um passo para promover o conhecimento, fortalecer a economia global e criar oportunidades, estreitar as relações entre as pessoas. Enfim, mais um passo para a harmonia no mundo. Esta última frase ele não escreveu, mas podia ter escrito no texto que publicou na página pessoal do Facebook. Menos cor-de-rosa é o poder que os dados de mil milhões de utilizadores fornecem a uma única organização. Não preço que pague estas toneladas de informação, mas não falta quem gostasse de lhe deitar a mão. Terrorismo e pirataria à parte, o recorde faz soar uma campainha sobre a crescente dependência de pessoas, organizações e negócios da febre de partilha no Facebook. Será melhor começar a pensar num plano B.