As escolhas de Obama
Por Bernardo Pires De Lima
A prova que o Médio Oriente está em profunda transformação é dada pelo estado da relação entre EUA e Israel. É verdade que Obama e Netanyahu não precisam de ser os melhores amigos para que a aliança entre os Estados seja sólida, mas o que estamos a assistir é à degradação política bilateral em consequência de um mau relacionamento pessoal e de agendas diferentes. É impossível dissociar a vitória de Netanyahu da afirmação de campanha sobre a recusa da solução dois Estados e do momento negocial em redor do nuclear iraniano. A primeira recuperou votos à direita e a segunda levou Netanyahu a Washington para cavar mais o fosso que o separa de Obama. Ora, se para Netanyahu estas são duas "ameaças existenciais", elas são parte da agenda da Casa Branca para o Médio Oriente, seja por continuidade com uma linha diplomática democrata, mesmo que pouco decisiva, seja por pragmatismo quanto ao papel de Teerão na estabilidade do Iraque e da Síria. Estamos a assistir a linhas divisórias demasiado vincadas para acharmos que nada de relevante se passa entre Israel e os EUA. Com isto não quero dizer que a relação esteja em causa - nunca estará - ou que o bom senso não prevaleça. O meu argumento vai para lá de Telavive e de Washington e concentra atenções no complexo de alianças regionais. Israel, Arábia Saudita, Turquia e Egito olham com grande desconfiança para a orientação americana em "favorecer" o Irão, seja aliviando sanções em troca da transparência no enriquecimento de urânio seja pela coordenação "oficiosa" na luta anti-ISIS. Obama está a fazer escolhas, a sinalizar prioridades e arrisca a estabilidade de alianças tradicionais. Vai vincular a próxima administração, autonomizar comportamentos aliados e exigir bons resultados. A lição, nesta e noutras paragens, é que Washington já não determina sozinha os seus termos.