Dez anos de Guantánamo
Editorial
A prisão
americana em Guantánamo completa hoje dez anos
de existência e conta com
171 detidos dos cerca de
700 que por lá passaram. O seu encerramento foi uma promessa
eleitoral de Barack Obama consciente
de como Guantánamo constituía uma afronta aos princípios
elementares da dignidade humana, espinha dorsal da civilização ocidental. E no segundo dia do seu mandato, o Presidente dos EUA assinou o decreto de encerramento da dita prisão. Mas Obama esquecera-se de que o seu poder não
é total nem absoluto. E os republicanos não perderam tempo em fazer-lhe sentir
isso ao recusar,
por exemplo, que os ex-detidos
fossem levados para território americano. E o resto do mundo que aplaudiu
a promessa eleitoral de
Obama também não foi capaz de o ajudar a cumpri-la recebendo alguns dos detidos.
Dez anos depois,
e quando os talibãs se preparam para negociar o fim do conflito no Afeganistão - colocando no topo das suas
exigências a libertação dos
seus que ainda se encontram em Guantánamo -, a prisão que se situa
na baía cubana
com o mesmo nome não só se mantém
aberta como corre o risco de fazer muitos mais
aniversários, tendo como "hóspedes" indivíduos que nada tiveram a ver com o 11 de Setembro de 2001. É que, em ano de eleições,
Obama não hesitou em assinar no passado
dia 31 de dezembro uma lei que proíbe
a utilização de fundos militares para transferir ou repatriar detidos
de Guantánamo, mesmo que estejam inocentes.
Isto é, Obama aceitou assim que em
Guantánamo haja detidos indefinidamente e sem julgamento, o que lhe valeu
de Andrea Prasow, conselheiro
em contraterrorismo para a Human Rigths Watch, um comentário significativo:
"Agora, Guantánamo eternizou-se
legalmente."