Vencedores do Oscar 2011

 

por Renato Silveira

 

28 Fevereiro 2011

 

A Academia mandou o cinema americano para a forca na 83ª. edição do Oscar. Entre dez indicados ao prêmio principal, podemos citar pelo menos dois que não são apenas grandes filmes, mas genuínos representantes do cinema americano: "Bravura Indômita", faroeste à moda antiga, praticamente uma homemagem ao mais americano dos gêneros, e "A Rede Social", que trata de um tema atualíssimo e desconstrói o protagonista de uma típica história americana. E são filmes dirigidos por expoentes de uma geração de cineastas americanos: David Fincher e os irmãos Joel e Ethan Coen.

 

Mas a Academia decidiu preterir Fincher e os Coen e premiou "O Discurso do Rei", um filme inglês, sobre um capítulo da história britânica, dirigido canhestramente pelo ilustre desconhecido Tom Hooper, um filme que mereceu mesmo o Oscar de Melhor Ator para Colin Firth. O Oscar, que sempre é visto como a grande celebração do cinema americano, preferiu fazer o meio de campo político mais uma vez. Quando Steven Spielberg subiu ao palco para anunciar o vencedor, ele praticamente antecipou (por conta própria ou seguindo o script do teleprompter, não para ter certeza) um pedido de desculpas. " aconteceu isso antes, relaxem..." Ele sabe disso, que perdeu para "Shakespeare Apaixonado", em 1999. Nas duas oscasiões, Harvey Weinstein gargalhava na plateia. O clipe que precedeu a entrega do troféu foi a elegia perfeita, com o personagem de Firth fazendo o discurso do final do filme (aliás, praticamente todos os finais dos indicados foram mostrados ali, danem-se os spoilers), começando com "Neste momento sombrio..."

 

Outra prova de que a Academia esnobou a qualidade do cinema feito dentro de casa: Francis Ford Coppola foi homenageado no que se chamou Oscar pelo Conjunto da Obra, mas o cineasta de "Apocalypse Now", "O Poderoso Chefão" e "A Conversação" foi colocado nos fundos da plateia do Kodak Theatre. E pior: não teve direito a discurso no palco, quando apareceu junto a Eli Wallach e Kevin Brownlow, também homenageados (Jean-Luc Godard não perdeu seu tempo e preferiu ficar em casa). A presença deles ao vivo deu um pouco mais de destaque à homenagem, que no ano passado se resumiu ao clipe do jantar de honra. Mas acabou soando desrespeitoso do mesmo jeito.

 

A cerimônia em si foi mais dinâmica que nos últimos anos, com desempenho acima do esperado dos apresentadores James Franco e Anne Hathaway (ela, especialmente, teve muito mais presença de espírito que seu parceiro; poderia ter dado conta do recado sozinha tranquilamente). O clipe de abertura à la Billy Crystal (que voltou ao Oscar para um mini show de stand-up) foi muito bem feito e escrito. o clipe musical, mesmo tendo sido engraçado, parecia mais adequado ao MTV Movie Awards (teve direito até a "Crepúsculo"). E o final, apesar de meio breguinha, com coral de crianças, foi bonito, principalmente com a entrada de todos os vencedores juntos. A ideia foi boa, o elenco é que poderia ter sido melhor escalado. Mas, ei: Natalie Portman ganhou. isso teria valido a noite.

 

Sobre "Lixo Extraordinário", não foi nada injusto perder. Criou-se todo esse oba-oba em torno do filme aqui no Brasil, porque a grande mídia adora essas coisas, mas era esperado que "Trabalho Interno" fosse vencer. Afinal, a categoria de Documentário se tornou desde a era Bush um momento político do Oscar. Um filme sobre a crise financeira que tanto abalou os EUA tinha que ser a bola da vez.

 

Placar final: "O Discurso do Rei" ganhou quatro Oscar, empatado com "A Origem" (ao meu ver, merecia somente o de Efeitos Visuais e poderia também ter ganhado o de Roteiro Original). "Bravura Indômita" sai como grande injustiçado, sem nada nos bolsos.