José Antonio Lima
10.05.2012
O
presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, deu nesta quarta-feira 9 uma rara
demonstração de coragem que entrará para a história. A seis meses da eleição
presidencial, em meio a um debate acirrado, Obama decidiu se posicionar sobre
um dos temas que mais divide a sociedade americana: afirmou ser a favor do
casamento entre homossexuais. Foi um ato de coragem, digno de um governante
preocupado em igualar os direitos de todos os cidadãos. Foi um ato que os
brasileiros, lamentavelmente, ainda esperam para ver.
Obama fez a
declaração em uma entrevista concedida à rede de TV americana ABC News. Segundo
Obama, o primeiro presidente dos EUA a se declarar favorável ao casamento gay,
sua nova posição a respeito do tema é uma “evolução”. Até aqui, Obama se
limitava a apoiar a “união civil” de homossexuais. Para ele, isto era
“suficiente”, pois garantia direitos básicos para os parceiros homossexuais e
não atingia sensibilidades religiosas e tradicionais de determinados grupos da
sociedade. A “evolução” veio, segundo Obama, de conversas com amigos e
familiares e ao perceber que excelentes funcionários do governo e militares,
gays, ainda se sentiam constrangidos por não poder se casar.
No Brasil,
a “evolução” ainda não ocorreu. No levante obscurantista das eleições
presidenciais de 2010, diversos grupos sociais caíram vítimas do
conservadorismo de religiosos de todo o tipo que ameaçavam declarar guerras
santas aos políticos caso fossem contrariados. Os gays foram as maiores
vítimas. A presidenta Dilma Rousseff (PT) e o ex-governador de São Paulo José
Serra (PSDB) passaram semanas negando ser a favor do casamento gay. Ambos se
limitavam a dizer, como Obama fazia antes, ser a favor da “união civil”. Marina
Silva (PV), a evangélica que ficou em terceiro lugar, foi vista como virtuosa
por manter firme sua posição inicial, também a favor da “união civil”, mas
contra o “casamento gay”.
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A fala de
Obama é simbólica porque se deu em um clima ainda mais tenso que o
experimentado pelos candidatos brasileiros em 2010. Como no Brasil, religiosos
de todo o tipo se mobilizam nos EUA para impedir que homossexuais tenham o
mesmo direito de se casar que eles, religiosos, têm. Nesta quarta-feira 9, o
Estado da Carolina do Norte aprovou, em plebiscito, a proibição do casamento
gay ao estabelecer que um casamento só pode ser concebido como tal se for
firmado entre um homem e uma mulher. A Carolina do Norte foi o 31º estado
norte-americano a aprovar uma legislação deste tipo. Por lá, a nova posição de
Obama deve complicar sua votação. Conservador, o estado é estratégico no
sistema de colégio eleitoral em vigor nos EUA, e pode pender para Mitt Romney,
o candidato republicano.
O ato de
Obama, ainda que corajoso, precisa ser entendido como um ato político tomado
sob pressão. Nesta semana, o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, se declarou
“confortável” com os casamentos homossexuais. E, pela primeira vez na história,
uma pesquisa de opinião pública mostrou que mais da metade dos norte-americanos
(53%) acham que o casamento entre pessoas do mesmo sexo deve ser considerado
válido perante a lei. Da mesma forma, a posição dos políticos brasileiros é
também um ato político. Em julho de 2011, dois meses depois de o Supremo
Tribunal Federal (STF) legalizar a união civil de homossexuais, 55% dos brasileiros
se diziam contrários à decisão. Com base nisso, pode-se entender que os
políticos brasileiros estavam em 2010 apenas refletindo a opinião pública.
Refletir ou ecoar o que pensa a população, entretanto, não é a missão de um
líder. Liderar é ter coragem para guiar um povo para o caminho certo e fazer
cada um entender que lutar para impedir direitos iguais para todos é se colocar
do lado errado, e cruel, da história.