Obamemos …
Lucas Mendes
De Nova York para a BBC Brasil
Barack Obama vai falar. O prêmio
do Partido Democrata é
dele. Se nos curvamos diante nobres e do clero, não é vergonha
ficar de joelhos para ouvir um homem
que mudou a história.
Ele ainda não
é o presidente, mas se
imagine um negro no sul dos Estados
Unidos, em 1961, quando Barack Obama nasceu.
Nas escolas negras
não havia nenhum branco, nem no seu bar, no seu restaurante, no seu hotel. Nem no banheiro público. Negro não tinha amigo branco. Ou vice-versa.
Ou se imagine um branco que só via os
negros atrás dos balcões, nas fábricas,
na cozinha, esfregando o chão.
Em 68, com quatro jornalistas, o dono de um restaurante nos recusou serviço
no Alabama, porque entre nos
havia um etíope. Quando chamamos a polícia, vieram quatro carros e nos "deram proteção" para fora do Estado antes que fossemos agredidos.
Na terça-feira,
só com o verbo, um negro magrelo chamado Barack Obama, saído de um bairro pobre de Chicago, se tornou o candidato do Partido Democrata à Presidência
dos Estados Unidos. Ele pode ser o “boss”, o comandante-em-chefe, o líder do maior império do planeta.
Imagine a cabeça
dos sulistas que acreditavam na superioridade de raça branca e, hoje, vêem um negro perto da Presidência. E muitos não só
acreditaram como votaram nele.
Vamos ficar de joelhos. Até os
que duvidam, como eu, das
chances dele ser eleito em novembro, temos que acreditar num mundo melhor graças
a Barack Obama.
E, quase
tão extraordinário, em segundo lugar,
com 1% de diferença nos votos, vem uma
mulher. Também merece nossa circunflexão.
Viva o Partido Democrata.
Luta
Esta luta começou
há 16 meses, as primárias há quatro.
Foram 54 eleições incluindo os caucus. E isto foi só
o primeiro tempo.
Impossível dizer qual
dos dois candidatos foi mais generoso
nos elogios ao adversário ontem
à noite, mas os partidários de Obama queriam mais.
O senador,
na vitória, foi magnânimo. Hillary Clinton despejou adjetivos, mas quem esperava
uma rendição ou mesmo um endosso
da senadora ao senador ficou
desapontado. Os partidários
de Obama contavam com uma entrega maior.
O jogo
político americano tem mais do que primeiro
e segundo tempos. Afinal, o
esporte do país é o
baseball, são nove turnos e nem sempre
acaba no nono. Então, qual é a próxima jogada?
Ontem à tarde,
a senadora, numa entrevista com os deputados de Nova York, disse que estava aberta
ao convite à Vice-Presidência. Os críticos logo viram na oferta mais
um lance oportunista para gerar controvérsia e tirar o brilho da noite de consagração
do senador.
Para uma
candidata que começou como favorita,
caiu em desgraça
e quase virou o jogo nas últimas
seis semanas, ela esta forte e indispensável. Basta olhar o mapa das
vitórias nos estados cruciais e a demografia.
A senadora
tem os brancos pobres, as mulheres, os velhos, os
latinos, os judeus. Sem ela,
as chances do senador ficam
menores. A pressão é cada vez maior
para que ele ofereça a ela
a Vice-Presidência.
Há forte resistência ao nome da
senadora, que vem com a bagagem pesada do marido. E onde se enquadra a promessa de "mudança”, que foi o tema
da campanha dele. Os Clintons são Washington.
Faltam seis meses
para eleição, uma eternidade com possibilidades de tragédias, escândalos, armadilhas, mas hoje, se você
unir a chapa-sonho e a matemática dos votos do colégio eleitoral, a dupla Obama-Clinton é invencível.